Se você, são-paulino, tem menos de 25 anos, talvez os detalhes
lhe escapem à memória. Contudo, certamente jamais esqueceu ou
esquecerá a emoção vivida. Se por acaso tem mais de 25 anos, sem
dúvida alguma tem em mente um jogo divisor de águas. De sua própria
vida, como da vida de seu clube. Um jogo ocorrido há exatos 19
anos.
Em 17 de junho de 1992, o Estádio Cícero Pompeu de Toledo
presenciou a maior explosão de alegria da história do local. Mais
de 115 mil pessoas assistiram ao épico festejo da conquista da Taça
Libertadores da América de 1992. Milhares das quais, inclusive,
proporcionaram a lendária invasão (ordeira e civilizada – bom
ressaltar) que se viu por esse gramado.
Carregando os ídolos nos ombros, do campo à pista olímpica,
despindo-os de problemas superados e percalços ultrapassados
durante toda a competição (e claro, também de suas camisas, grandes
relíquias), os torcedores celebravam aquele feito que, se não
inédito, ressuscitou o interesse e o futebol brasileiro à conquista
da América.
Caminhos da América
O sonho, que se iniciou ano antes com o tricampeonato nacional,
quase se tornou pesadelo com a inusitada derrota por 3 a 0 para o
Criciúma, na primeira rodada. O comandante Telê Santana não
estimava o torneio, por décadas regido por violência e doping, e
escalou um “misto”.
Porém, após muita pressão, a Conmebol adotou o controle de
dopagem, ao menos em jogos do São Paulo FC (mesmo que o Tricolor
tivesse que pagar os custos do procedimento). Após esses desafios
políticos e internos, a altura dos Andes seria o próximo empecilho,
superado graças ao desenvolvimento técnico e científico da comissão
técnica, chefiada nesse departamento por Moracy Sant’Anna.
Os adversários foram caindo um a um. San José, Bolivar, Criciúma
(o troco), Nacional de Montevidéu, Criciúma novamente (quem mandou
provocar) e, depois do Barcelona de Guayaquil, a grande final
contra o time argentino comandado por ‘El Loco’ Bielsa, o Newell’s
Old Boys.
Um dia para sempre
Na primeira partida da decisão, derrota pelo placar mínimo.
Confiança plena no jogo de volta, em um Morumbi fervilhante.
Impiedosa, a equipe Tricolor, capitaneada por Raí, não perdoou os
argentinos que, todavia resistiram, salvando até mesmo um lance em
cima da linha.
Mesmo com todo o sufoco imposto, a equipe portenha somente
vacilou aos 22 minutos do segundo tempo, quando Gamboa cometeu
pênalti em Macedo. Raí converteu a cobrança. Mesmo placar do jogo
de ida, 1×0. Decisão por pênaltis, dramática claro, mas já bem
conhecida por todo são-paulino.
A série de cobranças foi desigual. Os argentinos contaram
somente com seus jogadores na disputa, já os são-paulinos com mais
duas pessoas. Valdir de Moraes, preparador de goleiros, havia
estudado o modo de cobrar dos adversários, e Alexandre, o goleiro
reserva, repassou as informações à Zetti durante as
penalidades.
Berizzo perdeu. Raí marcou novamente. Zamora venceu Zetti, mas
Ivan também guardou. Llop empatou, e o placar permaneceu assim,
pois Ronaldão errou. Então Mendoza retribuiu o favor e bateu por
cima. Cafu pôs o São Paulo na frente, 3×2.
A última cobrança da série normal seria de Gamboa. Zetti foi
magistral. Saltou para a esquerda e, de mão trocada, espalmou a
bola para fora. Estava decidido. O São Paulo era, pela primeira
vez, Campeão da Copa Libertadores da América!
O resto da história todos conhecem, o gramado do Morumbi nunca
foi tão vermelho, branco e preto!
Ficha da partida
17.06.1992 São Paulo (Brasil) Estádio Cícero Pompeu de Toledo,
Morumbi
SÃO PAULO Futebol Clube 1 x 0 Club Atlético NEWELL’S OLD
BOYS
Nos pênaltis: 3 x 2 para o São Paulo
SPFC: Zetti, Cafu, Antônio Carlos, Ronaldão e Ivan; Adílson,
Pintado e Raí (capitão); Muller (Macedo), Palhinha e Elivélton.
Técnico: Telê Santana.
Gol: Raí (pênalti), 22’/2
CANOB: Scoponi, Saldaña, Gamboa (capitão), Pocchettino e Berizzo;
Llop, Berti e Martino (Domizzi); Zamora, Lunari e Mendoza. Técnico:
Marcelo Bielsa.
Árbitro: José Joaquín Torres Cadenas (Colômbia)
Assistente 1: Jorge Zuluaga (Colômbia)
Assistente 2: John Redón (Colômbia)
Renda: Cr$ 1.072.490.000,00
Público: 105.185 pagantes, mais de 115 presentes
Pênaltis:
Berizzo – perdeu (trave) / Raí – gol
Zamora – gol / Ivan – gol
Llop – gol / Ronaldão – perdeu
Mendoza – perdeu (por cima) / Cafu – gol
Gamboa – perdeu (Zetti) / Pintado (não precisou cobrar)