Hoje (16), o São Paulo Futebol Clube comemora 74 anos de glórias e vitórias. Os são-paulinos perguntam, mas por que o tricolor também comemora seu aniversário dia 25 de janeiro se suas atas de fundação são datadas de 26 de janeiro e 16 de dezembro?
O desejo dos fundadores, jogadores e dirigentes dissidentes do C.A. Paulistano e da A.A. das Palmeiras, era constituir um clube com o mesmo nome da cidade e em condições de representá-la em vários aspectos. Dentro desse espírito, tudo fizeram para que a data de fundação coincidisse com a data de aniversário da cidade, 25 de janeiro.
Entretanto, como os estatutos que regiam a sociedade não ficaram prontos no dia programado, a assembléia de fundação foi realizada um dia depois, 26 de janeiro de 1930. Juridicamente, essa sociedade extinguiu-se dia 14 de maio de 1935, fundida que foi com o C.R. Tietê, passando a chamar-se C.R.Tietê – São Paulo até 1940 e a partir daí, apenas C.R. Tietê. O ato transferiu para aquela agremiação os bens materiais, mas não as idéias, uma vez que o amor pelo futebol, extinto, continuava vivo.
Vários elementos que haviam combatido a fusão, entre eles os integrantes do Grêmio Tricolor, trataram logo de fundar outra sociedade com o mesmo nome. Após breve período denominado Clube Atlético São Paulo (de 4 de junho de 1935 a meados de dezembro do mesmo ano), eis que nasce o São Paulo Futebol Clube, com as mesmas cores, símbolos, uniformes e bandeiras do anterior, no dia 16 de dezembro de 1935. Sentimentalmente, segundo depoimentos da maioria dos que participaram da segunda fundação, as duas agremiações são consideradas uma só, apenas em duas fases de existência.
O processo que levou ao nascimento do São Paulo Futebol Clube em 1935 fora iniciado mesmo antes do decreto oficial de extinção do clube da Floresta. Em 25 de março de 1935 surgia o Independente E.C., time criado pelos próprios jogadores do São Paulo de então, descontentes com as negociações de fusão com o C.R. Tietê. Tal entidade contou com apoio inicial até mesmo de Arthur Friedenreich. Todavia, não se perpetuou.
Seguindo o Independente, veio o C.A. Estudantes de São Paulo, em maio daquele ano. Este, posteriormente (1938), voltaria ao seio tricolor quando da fusão do São Paulo F.C. com o C.A. Estudantes Paulista.
Mesmo com total dispersão de seus integrantes – sejam sócios, dirigentes ou jogadores -, o ideal, entretanto, não morreu nos corações daqueles que consagravam um amor eterno ao clube que morrera na Floresta.
Formou-se então mais tarde, um núcleo de torcedores convictos em sustentar o fogo sagrado daqueles ideais, mesmo que suas metas só fossem alcançadas em um tempo longínquo. Assim, os são-paulinos começaram a se reunir no escritório comercial da família Mecca, à rua João Bricola, 9º andar.
Para melhor cuidar dos interesses do grupo, decidiu-se então refundar o Grêmio São-Paulino, associação que prepararia os detalhes acerca do renascimento do São Paulo F.C. Estavam a frente desta empreitada o próprio Mecca, Porfírio da Paz, Frederico Menzen, Cid Matos Viana, os Irmãos Toledo, Monsenhor Francisco Bastos, Granvile, João Fernandes, João Iaia, Prof. Barros, Maestre, Tomaz Mauri, Eolo Campos, Sprovieri, Alcides Borges, Pereira Carneiro, Narvaes, Reis Neves, Jaime Roso, Edson Fonseca e muitos outros.
Tudo combinado, acertos finais terminados, chegou então o grande dia: 16 de dezembro de 1935. Segue abaixo relato da Revista Arakan, de 1942, sobre abençoado dia:
Às 20 horas, no escritório do Dr. Silva Freira, situado à Rua Onze de Agosto, 9-A., reuniu-se o grupo heróico da fundação para, debaixo da descrença de alguns, indiferença de outros, mas confiantes em Deus e com os corações cheios de amor ao Ideal Supremo, reerguer o “Clube da Fé”, o São Paulo F.C.! Marcada para às 20 horas daquele dia, já às 19, mesmo antes de se abrir o escritório, havia um grande número de “sampaulinos” à espera da hora feliz, do início da sessão. À testa desse grupo, palestravam cheios de animação Tenente Porfírio, Jaime Roso, Ribeiro, Valdemar, Éolo Campos, Alcides Borges, Sprovieri, Narvaes, Gumercindo, Menzen, Edson Fonseca, Ribeiro, Granville, faltando Mecca por causa da lamentável morte de um seu filhinho, ocorrida dia antes.
Às 20 horas, começou, debaixo da mais intensa emoção e de um indescritível entusiasmo, a magna sessão que foi aberta pelo Tenente Porfírio da Paz, cujo discurso de abertura fez vibrar a assembléia. Terminadas as suas palavras, pediu Tenente Porfírio à assembléia que indicasse um dos presentes para presidir os trabalhos, e, por aclamação foi o próprio Tenente escolhido para presidir a sessão. As palavras de agradecimento daquele militar, pela sua escolha, fizeram encher de lágrimas os olhos dos “sampaulinos”, bem como deixaram a certeza de que o Futuro do clube estava assegurado pela Fé inquebrantável que nunca deixou de sustentar os destinos do São Paulo F.C.
Ainda debaixo da maior animação, foi proposto o estudo e aprovação dos estatutos, trabalho esse que durou mais de duas horas. Aprovados que foram os mesmos, deu-se início então à eleição da primeira Diretoria que ficou assim constituída:
Presidente, Manoel Carmo Mecca;
1º Vice-Presidente, Alcides Borges;
2º Vice-Presidente, Pereira Carneiro;
1º Secretário, Éolo Campos;
2º Secretário, Paula Lima;
1º Tesoureiro, Arruda Nascimento;
2º Tesoureiro, Isidoro Marcos;
Diretor Geral de Esportes: Tenente Porfírio da Paz.
Cerca das 24 horas, terminou a sessão debaixo de vivas ao Clube, a São Paulo e ao Brasil, e em seguida uma comissão dirigiu-se às estações de Rádio e aos jornais a fim de lhes dar a boa nova.
Terminou assim, entusiasta por um futuro promissor, aquele dia onde fora fundado, re-criado, o São Paulo F.C. Seus idealizadores sabiam que enfrentariam muitas agruras, mas que pela Fé e pelo trabalho árduo superariam todas as tormentas e o sonho, enfim, se tornaria realidade.
“Já que é um sonho… que seja um Grande sonho”. Como diria Presidente Laudo Natel.