Na Copa do Mundo da Itália, em 1934, novamente bagunças
administrativas internas envolvendo, agora, ligas profissionais e
amadoras, impediram que a Seleção Brasileira se apresentasse com os
melhores jogadores.
O CENÁRIO
A transição do futebol amador para o futebol profissional causou
muitos transtornos entre o final dos anos vinte e começo dos anos
30. O próprio São Paulo nasceu em decorrência do abandono do Club
Athlético Paulistano ao “profissionalismo marrom” que tomava conta
do esporte até 1933, quando, de fato, foi instituída oficialmente a
situação.
O Tricolor, aliás, tomou parte na primeira partida profissional
realizada no Brasil: foi em 12 de março daquele ano, na Vila
Belmiro, e o São Paulo goleou o Santos por 5 a 1, cabendo a autoria
do primeiro gol profissional ao maior craque da época,
Friedenreich.
Em São Paulo, a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos)
aderiu ao profissionalismo. A carioca, AMEA (Associação
Metropolitana de Esportes Atléticos), não. No Rio de Janeiro
surgiu, então, a LCF (Liga Carioca de Futebol), profissional. APEA
e LCF formaram a FBF (Federação Brasileira de Futebol).
A FBF, contudo, não era filiada à FIFA. A entidade brasileira
que permanecia ligada à organização internacional era a CBD
(Confederação Brasileira de Desportos). E, às vésperas da
realização da segunda Copa do Mundo da FIFA, a CBD precisava de
jogadores urgentemente. O único grande clube filiado à AMEA/CBD, em
1934, era o Botafogo.
A CBD tentou passar por cima desses pequenos detalhes e, em 9 de
abril de 1934 convocou jogadores para a Seleção, incluindo atletas
da liga rival, FBF. Nenhum clube profissional aceitou tal situação.
Essa convocatória foi anulada. A entidade amadora então partiu para
o ataque e começou a aliciar, um por um, os jogadores que queria,
contratando-os diretamente.
O Palestra Itália chegou a esconder seus jogadores anteriormente
convocados e outros, com potencial para, em um sítio no interior de
São Paulo (dizem que com escolta fortemente armada). Já o São Paulo
não conseguiu impedir que quatro de seus jogadores tomassem parte
do evento – fato que o atrapalhou de sobremaneira a conquistar o
Campeonato Paulista daquele ano, em que terminou na vice
colocação.
Só viajaram à Europa jogadores do Botafogo e os aliciados (entre
eles Leônidas da Silva), Os tricolores, mesmo após a Copa do Mundo,
não regressaram ao clube, permanecendo em amistosos com a Seleção
da CBD até perto do final do ano (Em verdade, somente Luizinho
voltou ao time, ainda em 1934).
Cabe ainda dizer que esse atrito com a CBD foi um dos
componentes políticos que levou o São Paulo a se unir com o Clube
de Regatas Tietê, em 1935, causando uma interrupção temporária que
somente foi corrigida com a refundação do Tricolor, em dezembro
daquele ano.
OS SÃO-PAULINOS
Os jogadores inscritos na Copa do Mundo de 1934 foram o defensor
Sylvio Hoffmann e os atacantes Armandinho, Luizinho e Waldemar de
Brito.
Sylvio Hoffmann, nascido no Rio de Janeiro, chegou ao Tricolor
em 1933 proveniente do São Cristóvão. Teve destaque no Torneio
Rio-São Paulo daquela temporada. Ao todo disputou 37 jogos pelo
time, não marcando gol.
O ótimo ponta Luizinho foi herança do Paulistano. Presente desde
os primeiros dias de existência do clube, o carioca teve três
passagens no Tricolor. A primeira de 1930 até 1934, quando foi
contratado pela CBD; a curta estadia entre o final de 1934 e o
começo de 1935, quando o São Paulo se uniu ao CR Tietê; e a fase
mais vitoriosa, entre 1942 e 1947. O cartel do atacante é de 263
jogos e 173 gols (top 10), possuindo ainda os títulos de campeão
paulista de 1931, 1943, 1945 e 1946.
Armandinho, paulista de São Carlos, chegou ao São Paulo em
agosto de 1930, ao que tudo indica vindo do Palestra Itália. Após
deixar o clube para a disputa da Copa de 1934, Armandinho regressou
ao Tricolor em 1938, depois da incorporação do Estudantes, e
permaneceu até 1940. Foram 149 jogos e 64 gols marcados com a
camisa são-paulina. Campeão Paulista de 1931.
Por fim, o maior craque dentre os selecionados, Waldemar de
Brito. Irmão de Petronilho de Brito, Waldemar também despontou no
futebol através do Sírio, clube menor da cidade de São Paulo. No
Tricolor, o centroavante fez história, sendo o único atleta a
possuir média de gols marcados superior a um por jogo (foram 85
gols em 78 jogos). Regressou ao time em 1941 e aqui permaneceu até
o título paulista de 1943.
A PARTICIPAÇÃO
A campanha do Brasil na Copa do Mundo de 1934 foi pífia e digna
das pataquadas fora de campo. Em formato eliminatório desde a
primeira fase, a seleção caiu por 3 a 1 (gol de Leônidas) frente a
Espanha, em 27 de maio, e deu adeus a competição. O time com
Waldemar de Brito e os outros três tricolores não foi páreo para a
Fúria.
A DELEGAÇÃO
OS INSCRITOS
*Jogadores que foram inscritos pela CBD junto a FIFA mas que se
recusaram a viajar e participar da Copa do Mundo.
FICARAM DE FORA