Foi na inauguração do Estádio do Pacaembu, em 1940, que o Tricolor ganhou uma das alcunhas mais famosas do clube: “O Mais Querido”. A história do nascimento desse apelido é uma prova de adoração e respeito do povo paulista pelo time e pelos simbolos do Estado.
Em 1937, o governo de Getúlio Vargas promoveu, em praça pública, a queima de todas as bandeiras estaduais em um ato extremo de autoritarismo contra o federalismo estadual e outras liberdades constituídas (derrubou também o Congresso e a Constituição). O uso dos símbolos estaduais estava, então, proibido – era crime. Nesse contexto, em 27 de abril de 1940, o estádio do Pacaembu foi inaugurado. Getúlio Vargas, como presidente, foi convidado para os festejos. No decorrer das solenidades de abertura, com um público estimado em 60 e 70 mil pessoas, começou o desfile das delegações esportivas pelo novo estádio.
Esportistas argentinos, uruguaios e peruanos, além de atletas de Coritiba, Portuguesa, Ypiranga, Juventus, Paulistano, Esperia, Corinthians, Germânia e Palestra Itália, dentre outros, já haviam completado o trajeto e adentrado ao gramado quando a comitiva são-paulina surgiu na pista. A delegação são-paulina era pequena, se comparada a Germânia e Tietê (tradicionais clubes poliesportivos) ou aos outros grandes clubes de futebol da Capital, mas não fez feio: ao contrário!
A descrição não foi nenhum pouco exagerada. O Jornal Folha da Manhã, do dia seguinte, também registrou o fato. “O público esportivo propriamente dito demonstrou quanto é querido o S. Paulo F.C., pois, ainda que apresentasse pequena turma, recebeu calorosas palmas, sendo o nome ovacionado deliberadamente”. O diário A Gazeta, corroborando, foi além, e estampou: “O Clube Mais Querido da Cidade” ao lado da foto da delegação tricolor, com placa e bandeira do São Paulo. O mesmo se deu no Diário da Noite, de 30 de abril.
Esse apelido, justamente, teria sido o comentário de Getúlio Vargas aos pares dele ali presentes, ao constatar a reação da população paulista presente no Pacaembu à comitiva são-paulina: – “Ao visto, este é o clube mais querido da cidade”. Se Getúlio Vargas se fez de bobo, ou não, não é possível saber. Mas é fato que a afirmação se espalhou como fogo em rastro de pólvora.
Quase que imediatamente depois, o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) promoveu um um concurso público, aberto a todos os torcedores, para saber, afinal, qual era o clube mais querido da cidade. Os favoritos eram Corinthians e Palestra Itália, com torcidas bem mais numerosas do que a do Tricolor, na época. Porém, o resultado final do referido concurso (finalizado no dia 7 de maio) foi uma surpresa para os incautos!
Em um universo de 11.528 votos, ao São Paulo foram destinadas 5.523 escolhas (47,90% dos participantes). O Tricolor venceu o concurso disparadamente na primeira posição (com um total de votos maior que a somatória obtida dentre o segundo e terceiro lugar). A classificação final a seguinte:
Assim foi oficializado! O São Paulo Futebol Clube é o Mais Querido da Cidade! Com direito a troféu e tudo mais. Em setembro daquele ano, na Revista Arakan, o Grêmio Sampaulino, órgão de apoio do São Paulo, passou a utilizar a frase como epíteto do clube. Em 1941, o Tricolor tornou-o oficial. Esse slogan até hoje figura nos impressos e correspondências oficiais do clube.
Como já dizia Thomaz Mazzoni: “Brasileiro de São Paulo: O São Paulo FC é o teu Clube, pois tem o nome de tua terra e a alma de tua gente”. Hoje, o panorama do Brasil é outro. O São Paulo rompeu fronteiras: estaduais, regionais, nacionais, internacionais… não pertencendo mais a um único povo, a um único chão. Ainda assim, contudo, teve tradicional berço, ao qual honrou com orgulho – principalmente quando mais precisaram.