Quando Claudio Mortari chegou ao São Paulo para comandar o time de basquete em 2018, trouxe com ele um currículo de peso. Cinco vezes campeão brasileiro, campeão sul-americano, vencedor do Mundial Interclubes e eleito cinco vezes o melhor técnico do Brasil. De lá para cá, a modalidade evoluiu muito e hoje o time comandado por ele está entre os melhores do país, ocupando a terceira colocação no NBB, a principal liga nacional do Brasil.
Nesta segunda-feira (15), o técnico que é referência para as novas gerações completa 73 anos. Como aniversário é época de reflexão, nós convidamos Mortari para um bate-papo descontraído, falando de passado, futuro, sonhos, apostas e, é claro, dos caminhos do basquete do São Paulo. Ele aceitou o desafio e, esbanjando simpatia, deixou claro que acredita na vida e no esporte, demonstrou ainda estar com sede de títulos e destacou Georginho como um dos craques da nova geração.
Com toda a sua experiência, como está sendo o desafio de treinar o São Paulo e como você vê o momento atual da equipe?
Claudio Mortari: “Esse ano nós ganhamos do Flamengo, do Minas e do Bauru, que são equipes que estão há muito tempo entre os melhores, e estamos jogando em condições de igualdade. A ideia desde o início era construir algo bastante sólido. O São Paulo não pode entrar em competição alguma para participar. É o DNA do clube. Eu tenho de agradecer toda manhã o fato de eu ter conseguido tantas coisas na minha carreira. Tive a grande oportunidade de trabalhar em grandes projetos do basquetebol brasileiro, e o São Paulo é um clube em que eu preciso ganhar um título, ele tem que vir. Você se manter vivo nessa profissão, na idade em que eu estou, tendo um clube desse tamanho na mão, sabendo a importância dele, é um privilégio. O tamanho do São Paulo não é o Morumbi, é mundial! Tem de saber isso, o que você representa. Você está carregando um peso muito grande e bastante importante”.
Você treinou os maiores nomes do basquete brasileiro. Hoje, com um time tão promissor nas mãos, consegue ver características vencedoras nele?
CM: “É muito difícil comparar, eu trabalhei com várias gerações. Oscar, Marcel, Marquinhos, Ubiratan, depois veio Paulinho Villas Boas, Josuel e caras que vocês provavelmente só ouviram falar. As gerações vão mudando, mas eu vejo sempre alguém com esse olho de tigre, essa vontade de chegar lá. Está chegando outra geração de talento aí, como por exemplo o Georginho. É um cara que fatalmente terá um futuro absolutamente brilhante. Hoje o caminho eu acredito que seja até mais fácil do que foi para as gerações passadas, com mais profissionalismo, mais treinamento, mais condição física. Eles têm muito mais condições de ter um futuro melhor”.
Estamos vivendo um momento crítico de pandemia. Você imaginava ter um desafio tão grande na sua vida?
CM: “É uma realidade tão estranha que você não se conforma com ela. Eu cheguei a dar treino para três atletas (no total, nove jogadores foram contaminados, além de membros da comissão técnica). Só depois de um mês que nós conseguimos reunir todo mundo. Eles viviam sempre com temor do teste, porque a gente faz teste aqui a cada 48 horas, pelo menos. Cada vez que você vai fazer o teste é uma tensão. Nós tivemos jogo aqui em que nós fomos com cinco jogadores e ainda ganhamos (contra o Paulistano, em 13/2, o São Paulo venceu por 71 a 63). A gente não podia fazer nada, só podia contornar os problemas. A força que vem dos atletas faz diferença. Fiz uma preleção esses dias assim: nós precisamos voltar a ser alegres! Nós tivemos muitos problemas, já choramos juntos, agora nós temos de sorrir de novo. A sensação de você ter um problema e conseguir resolver faz da minha profissão algo muito legal”.
Você tem noção do que representa para o basquete brasileiro? Seu nome é referência.
CM: “É difícil ter essa dimensão. Eu fiz bons trabalhos, tenho grandes conquistas, fui para uma Olimpíada com 31 anos. O grande sonho da minha vida era desfilar nos Jogos Olímpicos e consegui isso superjovem. Foi fantástico. Eu era garoto, você acaba se achando até (risos). Mas eu consegui bons resultados, o Brasil foi quinto naquela Olimpíada (Moscou, 1980). Fazendo um retrospecto, eu podia ter uma participação mais positiva na seleção. Fui para a seleção brasileira, pedi demissão e não tive uma nova chance, apenas em seleções juvenis. Na vida da gente eu acho que a gente tem que ter uma meta: continuar vivo depois de morto. Como? Sendo lembrado. E eu acho que ou na universidade por alguém que foi meu aluno ou no basquete, alguém vai falar: lembro dele! Isso é legal”.
Alguma vez você imaginou atuar em outra área que não seja o basquete?
CM: “Eu sou economista de formação, trabalhei em empresa privada e em banco, mas nunca me vi fazendo outra coisa. Eu saio de casa, chego aqui e sei que estou no lugar certo. Eu vou ter muitos anos e não vou perder essa sensação. É claro que agora está sendo um desafio muito grande. Tivemos muitos casos de Covid-19, mas tenho de fazer os caras jogarem. Então é continuar levando a sério e se prevenindo, seguindo os protocolos e tomando todos os cuidados possíveis”.