A recepção ao zagueiro uruguaio Lugano, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, pelos torcedores tricolores na noite de ontem (12) pode ter espantado muita gente, mas não quem sabe o que é ser são-paulino de corpo e alma, muito menos aqueles que conhecem a história do São Paulo Futebol Clube.
1942
A primeira, e uma das mais marcantes manifestações em honra a um jogador de futebol no Brasil ocorreu há mais de 70 anos. Foi em 10 de abril de 1942, mais precisamente. Naquele fim de tarde de uma sexta-feira, na antiga Estação de Trem do Norte, no bairro do Brás, Leônidas da Silva – o maior jogador de futebol brasileiro até o surgimento de Pelé e que havia acabado de ser contratado pelo São Paulo – foi recepcionado por uma multidão de mais de dez mil pessoas (!) que realizaram uma verdadeira passeata, carregando o ídolo nos ombros até a sede do Tricolor, à época, na Rua Dom José de Barros.
Reza a lenda que a expressão “Será o Benedito?” teria nascido nessa ocasião, quando uma senhora, fervorosa religiosa, espantada com o desfile de Leônidas pelas ruas da capital paulista, teria questionado se toda aquela movimentação não seria uma procissão de São Benedito.
Festa antecipada, mas premonitória. Com Leônidas, o São Paulo foi o maior campeão da década de 40 e se tornou o grande clube que é hoje. Feito que refletiu também, claro, na própria torcida são-paulina, que desde então não parou de crescer. Pouco mais de um ano depois da apresentação de Leônidas, os tricolores promoveram outro feito memorável: uma marcha sob a luz de archotes pelas ruas da cidade em comemoração à conquista do Campeonato Paulista de 1943, desfilando, orgulhosos, ao lado da “Moeda Que Caiu Em Pé”. Não contentes, realizaram novamente passeio semelhante, levando até a sede do clube, em 1946, a Taça dos Invictos, de “A Gazeta Esportiva”.
1978
Se na década de 40 o Estado de São Paulo era território comum do Tricolor por suas conquistas, o final da década de 70 marcou o início do desbravamento do Brasil pelos são-paulinos. Com a conquista do título de Campeão Brasileiro de 1977, decidido em 5 de março de 1978, nos pênaltis, em pleno Estádio do Mineirão, o São Paulo viu iniciar-se uma nova fase áurea, tanto de vitórias, quanto de nascimento de ídolos.
Waldir Peres, Serginho, Darío Pereyra (que aliás, teve grande acolhimento pelos torcedores quando fora contratado, em 1977) e companhia, herois do primeiro título nacional, foram recepcionados com todo o calor e glória que a façanha fazia jus. Mais do que isso, a oportunidade de saudar os ídolos fez os torcedores tricolores se destinarem a dois aeroportos diferentes! A delegação campeã desembarcaria em Congonhas, no retorno a São Paulo, mas o vôo atrasou e o avião acabou pousando em Viracopos! Sem problema para a torcida, que para lá rumou e, em carreata, escoltou de volta o ônibus dos heróis pela estrada de Campinas até o Estádio do Morumbi!
1992
Muitas outras conquistas e vitórias vieram depois, ao longo dos anos. Algumas eternamente encrustadas na pedra da história com especial destaque, como a inesquecível invasão de campo da torcida são-paulina após a vitória nos pênaltis sobre o Newell’s Old Boys, na final da Copa Libertadores da América de 1992.
Quem presenciou o momento viu algo inédito: o gramado do Morumbi perdeu a sua tradicional cor e se viu banhado por vermelho, branco e preto em cada metro quadrado, com torcedores festejando e carregando os campeões nas costas. Jamais houve comemoração igual em um campo de futebol até hoje.
2005
Mas mesmo o gigante Morumbi é pequeno para a paixão do torcedor tricolor pelo seu clube, ainda mais após um triunfo tão marcante e há muito aguardado como a conquista do tricampeonato mundial de 2005. Em verdade, mesmo a cidade de São Paulo se tornou pequena para a massa são-paulina que recebeu os donos do mundo no Aeroporto de Guarulhos, em 20 de dezembro.
A cidade parou. O clube teve que providenciar um “trio elétrico” para os jogadores atravessarem as vias paulistanas, partindo do aeroporto, com milhares de torcedores no encalço em um verdadeiro carnaval fora de época. Com direito a paradas na sede municipal e estadual, a carreata teve como destino final o estádio do Morumbi, onde os jogadores e o troféu do mundial foram saudados mais uma vez por uma incrível concentração de torcedores que não parava de festejar há mais de oito horas.
2011
Algum tempo depois, quis o destino que dois acontecimentos distintos (um deles, por demais espetacular) coincidissem em ocorrer em momentos próximos. Em 27 de março de 2011, o São Paulo venceu o Corinthians por 2 a 1 na Arena Barueri, pelo Campeonato Paulista. Até aí, nada demais, não fosse o fato de que o gol da vitória foi o 100º gol marcado pelo goleiro artilheiro Rogério Ceni.
O gol 100 do M1TO – um feito absurdo e por si só digno de grandes honras – foi comemorado com grande pompa no Morumbi, aliado a apresentação de um ídolo regresso e muito querido pela torcida são-paulina: Luis Fabiano. No dia 29 de março daquele ano, em pleno fim de tarde de uma terça-feira, mais de 50 mil pessoas deixaram seus trabalhos e colégios e partiram para o estádio do Tricolor prestar homenagem a dois de seus maiores ídolos.
2015
11 de dezembro de 2015. No dia anterior, o último contrato de Rogério Ceni com o São Paulo Futebol Clube havia se encerrado. O maior campeão da história do clube, o maior recordista e maior ídolo dos tricolores, chegara ao fim da carreira, se aposentara. Por todas as honras e méritos acumulados em 25 anos de história com a camisa são-paulina, somente uma coisa poderia ocorrer em homenagem ao M1TO: A maior festa de despedida da história do esporte!
60 mil torcedores foram ao Estádio do Morumbi dizer adeus a Rogério Ceni e principalmente agradecer por todos os anos de trabalho, lágrimas e sorrisos que o Capitão proporcionou a todos e que deixara marcados para sempre nos registros da história.
*Atualizado às 18h30. Agradecimentos a Alexandre Giesbrecht e Felipe Queiroz