Maior jogador do Brasil até o surgimento de Pelé, Leônidas da Silva – O Diamante Negro – era um atleta veloz, extremamente técnico e que possuía ótima impulsão e elasticidade, característica que lhe rendeu o seu segundo apelido mais famoso: Homem Borracha (criado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista Paris Match, durante a Copa do Mundo de 1938).
Tradicionalmente considerado pelos cronistas nacionais como o inventor da bicicleta – o fato é controverso, pois teria realizado o movimento pela primeira vez em 1932. Se não inventou, certamente imortalizou e consagrou a jogada -, Leônidas da Silva jogou futebol de 1930 a 1950, passando por São Cristóvão, Sírio Libanês, Sul América, Bonsucesso, todos do Rio de Janeiro, Peñarol (Uruguai), Vasco da Gama, SC Brasil, também carioca, Botafogo, Flamengo e, por fim, São Paulo, onde se tornou ídolo maior.
Defendeu a Seleção Brasileira com extremo sucesso entre 1932 e 1946, pela qual disputou duas Copas do Mundo, sendo inclusive artilheiro de uma delas, em 1938, com sete gols. Poderia ter disputado outras duas Copas, mas a 2ª Guerra Mundial impediu a realização das edições de 1942 e 1946.
Foi contratado pelo São Paulo junto ao Flamengo, em 1942, na transação mais cara da história do futebol sul-americano até então, no valor de 200 contos de réis (em valores convertidos e corrigidos, aproximadamente 195 mil reais). Por causa de sua idade e tempo sem jogar, os rivais falavam que, na verdade, o Tricolor tinha comprado um bonde por 200 contos.
Leônidas foi anunciado como contratado pelo São Paulo em 1 de abril de 1942. Dia da mentira. Claro que muita gente não acreditou, achando que o fato era brincadeira. Mas na realidade, poucos dias depois, 10 de abril, o craque foi recebido na Estação do Norte (Roosevelt), no Brás, por uma multidão de 10 mil pessoas que o conduziu nos ombros até a sede do clube, na R. Dom José de Barros, no centro.
Até mesmo um ditado popular surgiu por causa dessa passeata: Uma senhora idosa, alheia aos acontecimentos, teria questionado com surpresa: “Que acontece? Por que todo esse movimento? Mas será o Benedito”?! (São Benedito).
O craque estava há mais de um ano sem disputar partida oficial, e a estreia no Tricolor ainda tardou um pouco. Leônidas passou por um árduo período de regime e treinamento condicionado. A tão esperada estreia se deu em 24 de maio de 1942, em um empate em 3 x 3 contra o Corinthians, que resultou em recorde de público do estádio até hoje (70.281 pagantes).
Leônidas não teria jogado tão bem – Em verdade até participou de jogadas de gols -, mas a imprensa e os adversários zombaram do craque com uma piada de que o marcador do craque no jogo, Brandão, teria sido preso pela polícia por ter saído de campo com um diamante no bolso. Leônidas revelou posteriormente que, tão enervado que ficou, prometeu nunca mais jogar “mal” contra eles, e assim fez. Foram 10 vitórias contra cinco derrotas e 11 gols marcados em 19 jogos contra o Corinthians.
O sinal de que a vinda de Leônidas foi abençoada e que sua passagem pelo Tricolor daria certo veio na terceira partida do centroavante pelo clube. Contra o Palestra (14/06), Leônidas marcou o único gol do São Paulo na partida de maneira espetacular e tão particular, marca registrada do jogador – um gol de bicicleta -, que levou o locutor Geraldo José de Almeida à loucura (arquivo de Luiz Ernesto Kawall, do Museu da Voz):
A contratação de Leônidas e a era de ouro por ele desencadeada podem ser consideradas um marco de consolidação do São Paulo como um clube verdadeiramente grande. Com Leônidas como estrela maior, a “moeda caiu em pé” e o time ganhou cinco campeonatos paulistas em sete anos (1943, 1945, 1946, 1948 e 1949), sendo reconhecido aonde fosse com a alcunha de “Rolo Compressor”, definitivamente estabelecendo-se como potência do futebol nacional.
Leônidas ainda teve curta passagem como técnico de futebol do próprio São Paulo e da Confederação Brasileira de Desportos Universitários. A seguir, adentrou no jornalismo como comentarista esportivo, passando por TV Paulista, TV Record e Rádio Panamericana. Leônidas venceu sete prêmios Roquette Pinto como melhor profissional em sua especialidade. Em 1987, Leônidas foi condecorado com a comenda da Ordem Nacional do Rio Branco. O ídolo são-paulino nos deixou com eternas saudades em 24 de janeiro de 2004, quando faleceu, em Cotia (SP).
Leônidas da Silva
Centroavante
Jogos disputados pelo SPFC: 212 (137V,
36E, 38D)
Estreia: 24/05/1942 (São Paulo 3 x 3
Corinthians)
Último jogo: 23/12/1950 (São Paulo 2 x 1
Nacional)
Gols Marcados no SPFC: 144 (8º maior
artilheiro do clube)
Nascimento: 06/09/1913. Rio de Janeiro
(RJ).
Falecimento: 24/01/2004. Cotia (SP).
Títulos conquistados no SPFC:
Seleção Brasileira
Outros
Citações
Alfredo Foni, zagueiro da Seleção Italiana campeã mundial em 1938
“Foi como um presente dos céus saber que Leônidas não jogaria. Verdadeiro artista, malabarista da bola, era o jogador que surpreendia a todos“.
Eduardo Galeano, escritor e jornalista
“Tinha o tamanho, a velocidade e a malícia de um mosquito“.
Armando Nogueira, escritor e jornalista
“A bola era a lua cheia de graça de Leônidas da Silva“.
Mário Filho, escritor e jornalista
“Leônidas não explicava nada. Quando a gente estava arregalando os olhos para ver se via, a mágia já estava feita“.
Nelson Rodrigues, escritor e jornalista
“Um jogador rigorosamente brasileiro, brasileiro da cabeça aos sapatos. Tinha a fantasia, a improvisação, a molecagem, a sensualidade do nosso craque típico“.
Jose Poy, ex-jogador e técnico
“Entre Pelé e Leônidas existe uma diferença, a mídia eletrônica“.
Agnelo de Lorenzo, antigo funcionário e 1º historiador do São Paulo
“Leônidas era um senhor jogador, resolvia sozinho. Tanto que ele ia embora pra casa e os marcadores iam atrás dele, 4 ou 5, de tão atormentados“.
Dona Catharina, cozinheira do São Paulo nos anos 40
“Leônidas era uma maravilha! Ele comia lá em casa também, junto com outros jogadores. Mas ele queria comer sozinho, ele comia na cozinha mesmo“.
Caxambu, ex-goleiro do São Paulo sobre uma vez que enfrentou Leônidas:
“No último minuto de jogo teve uma penalidade que o Leônidas bateu e eu defendi. Até hoje ele não gosta que eu fale nisso, porque ele fez três gols em mim, na verdade, mas esse pênalti que eu defendi foi meu maior galardão“.