Quem o conheceu e teve a oportunidade de trabalhar, conviver e aprender com ele, não titubeia: “Seu Telê era realmente diferente”. Técnico mais vitorioso na história do Tricolor, o Mestre se despedia da torcida são-paulina há exatos dez anos. Seu legado, feitos, conquistas e triunfos, porém, estarão sempre gravados na memória da cada um que acompanhou a vitoriosa trajetória do treinador. No dia 21 de abril de 2006, por falência múltipla dos órgãos, o eterno comandante do São Paulo faleceu aos 74 anos, em Belo Horizonte, mas seu nome está eternizado na história e no coração de cada são-paulino.
Telê teve duas passagens pelo Tricolor (1973 e 1990-1996), e é até hoje o técnico mais vencedor da história do clube. Ao todo, foram dez títulos oficiais conquistados, incluindo os bicampeonatos da Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes, que elevaram o nome do São Paulo FC a um patamar nunca antes atingido. Seu retorno ao time foi graças ao então diretor de futebol Carlos Caboclo, que lembra daquela época com orgulho e riqueza de detalhes. “Nós éramos amigos, e tudo começou em uma conversa amistosa. Ele confiava em mim e aceitou o convite pela amizade. Na época, ele aceitou o convite para dirigir o São Paulo, e depois refugou. Mas insisti, liguei para ele diversas vezes e o Telê cumpriu com a sua palavra”, recorda.
“Quando ele chegou ao CT da Barra Funda, mesmo no escuro, de noite, foi ao campo para saber o estado do gramado. Acertamos tudo, e ele iniciou o seu trabalho. Pedimos para que ele treinasse mais com as categorias de base, mas nem era preciso: ele gostava bastante de observar os garotos. O Telê era desbravador, tinha personalidade forte e sabia conversar. Ele sempre trabalhava com perseverança e convicção, por isso sempre ouvimos diversos elogios ao legado dele. Ele marcou uma geração do São Paulo, e sua imagem sempre estará gravada no clube”, acrescenta o dirigente são-paulino, que hoje é diretor de relações internacionais do clube.
Eterno ídolo da torcida, que até hoje canta seu nome nos jogos do time, Telê sempre cobrou disciplina de seus comandados – tudo em prol da perfeição técnica, alcançada mediante treinamento constante e rigidez de conduta. O volante Toninho Cerezo, que trabalhou com o comandante no Atlético-MG, na Seleção Brasileira e no São Paulo também enalteceu a postura do treinador, que foi consagrado por onde passou. Telê foi caracterizado pelo futebol arte, principalmente na Seleção Brasileira de 1982. Mostrou que títulos simplesmente não bastavam, era preciso algo mais: transformar simples partidas em momentos inesquecíveis.
“Eu ainda era garoto no Atlético, e o Telê tinha aquela imagem de treinador linha dura. Ele era disciplinador, mas aos poucos ganhei a confiança dele e pude ter uma relação mais próxima. Quando cheguei ao São Paulo, nos anos 90, ele já estava mais tranquilo e experiente. Era um grande técnico, fez trabalhos memoráveis e sabia extrair o melhor de cada jogador. A grande virtude dele era conhecer melhor o perfil de cada atleta e, a partir daí, buscar a evolução de cada um. Além disso, o Telê estudava bastante os adversários e tinha uma mentalidade própria para montar o time. Apesar da postura disciplinadora, ele tinha um grande coração. Quando ele girava o apito entre os dedos, a gente sabia que era a hora de poder conversar com ele, porque estava bem humorado (risos). Só posso agradecer pela oportunidade de ter trabalhado com ele, porque aprendi muito”, revela.
No Tricolor, ergueu as taças de Campeão Mundial Interclubes 1992 e 1993; da Copa Libertadores da América 1992 e 1993, da Supercopa Sul-Americana de 1993; da Recopa Sul-Americana de 1993 e 1994, do Campeonato Brasileiro de 1991 e do Campeonato Paulista de 1991 e 1992. O capitão Rogério Ceni, no início da carreira, também teve a chance de trabalhar com o técnico e adquirir experiência ao lado do Mestre.
“O Telê foi extremamente importante na minha formação, tanto como atleta e pessoa, porque dava conselhos, broncas e incentivos no dia a dia. Ele tem uma identificação e uma história com o São Paulo, e sem dúvidas os conceitos dele foram importantes para a formação de atletas, como eu. Sem dúvida, ele foi o diferencial de cada um que teve a oportunidade de trabalhar lado a lado”, opina o M1TO. E se teve alguém que pôde dividir cada momento com o Mestre em diferentes fases da vida, é o seu filho Renê Santana.
“Guardo muitas histórias e momentos bons ao lado dele. E, sem dúvida, o reconhecimento pelo trabalho é um. A filosofia esportiva dele foi importante para o São Paulo, e este legado está marcado na história do clube. Ele deixou inúmeros exemplos de como transformar o futebol, e além disso mudou vidas. O Telê sempre se preocupou com o ‘extracampo’ dos atletas, porque queria o melhor para cada um deles e o futebol não é feito só no gramado. O jogador entendia isso sob o comando dele e se interessava pelo aprendizado. E, hoje, saber que ele tem este enorme reconhecimento me deixa muito feliz e orgulhoso”, finaliza.
Por isso, nosso eterno obrigado, Telê! Olêêê, olê, olê, olêêêêê, Telê,Telêêêê!