São Paulo e Cruzeiro jogam hoje pelo Campeonato Brasileiro. Será
a 67ª partida entre as duas equipes. A história desse confronto já
completa 69 anos. Em 1943, o Tricolor viajou a Belo Horizonte e,
mesmo desfalcado de quatro títulares absolutos, goleou o time local
impiedosamente. Confira a reportagem do jornal Gazeta Esportiva, do
dia 26 de fevereiro daquele ano, na íntegra:
Belo Horizonte, 26 (Gazeta) – O S. Paulo teve sua estréia
assinalada por um brilhante sucesso. Embora desfalcado de Waldemar
de Brito e Remo, não contando com o concurso de Leônidas e
Agostinho, o S. Paulo F. C. apresentou belo futebol no Estádio
Antônio Carlos, justificando plenamente a fama que o rodeia. O
encontro entre o esquadrão tricolor e o Cruzeiro era aguardado com
natural ansiedade. Os dois quadros entram em campo debaixo de
grandes aclamações. Ao dr. Helvecio Bastos, chefe da delegação
tricolor, são prestadas homenagens. José Alexandrino (árbitro)
chama os capitães para o toque.
Dada a saída por intermédio do dr. Helio Soares de Moura,
presidente do Atlético, vão os mineiros ao ataque e logo no
primeiro minuto King ao agarrar a bola cede escanteio que não é
aproveitado pelos locais. Há ataques dos dois lados que os
zagueiros de ambas as equipes inutilizam. Aos dois minutos vão os
paulistas ao ataque e Teixeirinha recebe um bom
passe conseguindo aninhar a bola no fundo das redes defendidas por
Geraldo II. Continua o jogo bem equilibrado. Numa avançada dos
locais Helio machuca-se sendo substituído por Lola.
Está jogando bem a defesa do S. Paulo.O trio final paulista
desfaz todas as investidas dos avantes do Cruzeiro. Há ligeira
pressão dos mineiros que estão incursionando mais vezes no campo
paulista. Estes recuam jogando os avantes locais no lado
bandeirante. Os tricolores reagem e vão ao ataque quando aos 32
minutos Teixeirinha consegue marcar o segundo
ponto para os seus. Dada a saída Pardal inicia novo ataque que é
desfeito por Azevedo, que joga a bola fora do campo, pelo lado das
arquibancadas. Continuam os ataques de ambos os lados até que o
juiz trila o apito anunciando o final da primeira fase.
Depois do descanso regulamentar voltam ao campo as duas
equipes cabendo a saída ao S. Paulo que organiza, por intermédio de
Teixeirinha, um ataque que é desfeito pela zaga mineira. Os
paulistas insistem, não desanimando os mineiros que tentam desfazer
todos os ataques organizados pelos avantes sampaulinos. Investem os
mineiros mas King está seguro no posto e afasta o perigo. King e
Piolim são os esteios da defesa bandeirante. Piolim está jogando
uma excelente partida, firme nas suas entradas e seguro nos seus
rechaços. Os mineiros passam a controlar melhor suas jogadas mas
não conseguem quebrar a cinta de aço formada pelo trio final do S.
Paulo.
Os paulistas vão ao ataque e o juiz José Alexandrino marca
uma falta que batida é a bola posta a escanteio por Juca. Bate
Pardal o escanteio e Luizinho perde uma ótima oportunidade de
marcar. Novas escaramuças no meio do campo até que os paulistas
investem obrigando os mineiros a ceder novo escanteio que batido
não surte resultado. Há alguns ataques de ambos os lados investindo
os paulistas e Teixeirinha, recebendo um passe,
com excelente cabeçada, coloca a bola no funo das redes,
assinalando o terceiro tento aos 23 minutos da segunda fase. Os
mineiros organizam um ataque por intermédio de Alcides, não obtendo
resultado. Os paulistas atacam por intermédio de Teixeirinha e
Américo recebe bem o couro enviando-o às redes,
aumentando a contagem para quatro aos 25 minutos.
Alcides, que se machucara ha alguns minutos, é substituído
por Ramildes. Os mineiros vão ao ataque e King deixa a bola passar
por sobre as traves quando todos pensavam que estava assinalado o
primeiro “goal” dos locais. Ambos os quadros diminuem sua produção.
Há uma situação crítica na porta do “goal” dos mineiros e o juiz
marca escanteio. Os paulistas organizam um novo ataque pela ala
direita e Américo recebe bom passe, não tendo
dificldade em assinalar o quinto e último tento dos bandeirantes.
Mais alguns minutos e está terminada a partida com o placarde
assinalando a vitória dos paulistas pela contagem de 5 a
0.
O sr. José Alexandrino teve ótima atuação. Do quadro
paulista devemos distinguir a atuação de King, Piolim e
Teixeirinha, tendo os demais elementos disputado uma partida
regular, o que influiu no rendimento do quadro. Dos mineiros, os
zagueiros foram os melhores elementos, seguindo-se Bituca, como
medio direito e no ataque Baiano e Ismael.
CRUZEIRO 0 X 5 SÃOPAULO
Competição: Amistoso
Local: Belo Horizonte (MG) Estádio Presidente
Antônio Carlos (Lourdes)
Data: 25 de fevereiro de 1943
Árbitro: José Alexandrino
Renda: Cr$ 8.000,00
SPFC: King; Piolim e Virgílio; Hélio Leite
(Lola), Noronha e Silva; Luizinho, Bazzoni, Américo, Teixeirinha e
Pardal. Técnico: Conrado Ross.
Gols: Teixeirinha, 2/1; Teixeirinha, 32/1;
Teixeirinha, 23/2; Américo, 25/2; Américo, 45/2
CEC: Geraldo II; Gerson e Azevedo; Bituca, Bibi
e Juca; Nogueirinha, Baiano, Niginho, Ismael e Alcides
(Ramildes).