Campeão Paulista de 1992

Campeão Paulista de 1992

Calendário 20/12/2024 - 05:00

No dia 20 de dezembro de 1992, já depois de ter-se sagrado campeão mundial, o São Paulo voltou ao campo – ainda meio afetado pelas comemorações – para derrotar o Palmeiras na segunda partida das finais do Campeonato Paulista por 2 a 1 e conquistar mais um título: o terceiro na temporada e o bicampeonato consecutivo estadual.

OS JORNAIS DA CONQUISTA

ANTES DA FESTA (E DA RESSACA)

No dia 5 de dezembro de 1992, antes do encontra contra o Barcelona, São Paulo e Palmeiras jogaram o primeiro jogo da final do Paulistão. O clássico levou 90.688 torcedores ao Morumbis em jogo de mando palmeirense.

Para os jogadores são-paulinos, ser relacionado para a partida ganhou um contexto todo diferente. Como o time deixaria o Morumbis praticamente correndo para viajar de madrugada para o Mundial de Clubes, no Japão, quem fosse selecionado para o clássico muito provavelmente ganharia um assento no avião.

AS REVISTAS DO TÍTULO

A partida começou pegada, com o árbitro Oscar Roberto de Godoy fazendo vista grossa para a dura entrada de Zinho em cima de Ronaldo Luís, aos 11 minutos. Tudo bem, na sequência, bola levantada na área, a defesa afastou mal, e Cafu acertou um lindo chute de canhota, sem pulo, de primeira, quase no ângulo do goleiro César. Golaço.

O São Paulo seguiu no campo de ataque, perdendo uma chance com Vítor em outra bola mal rebatida pela zaga rival. Foi o Palmeiras, porém, que encontrou o gol aos 22 minutos, com Daniel Frasson, depois de cobrança de falta de Evair que acertou a barreira. O Tricolor não mudou o modo de atuar, mas o adversário passou a controlar mais a bola.

O jogo seguiu, e, após algum desentendimento gerado por falta de Cerezo, advertido, o São Paulo recuperou a bola com Palhinha. O atacante sofreu falta por trás de Mazinho na intermediária. O árbitro seguiu a regra e expulsou, diretamente com o cartão vermelho, o atleta palmeirense.

Três minutos depois, aos 38, Müller cruzou da esquerda para a pequena área, o goleiro ficou indeciso e não saiu para o lance, ao contrário de Cafu, que se jogou e cabeceou a bola para trás, na medida para Raí tocar de voleio para as redes: 2 a 1 para o Tricolor.

No segundo tempo, depois de uma injusta expulsão de Ronaldão por falta em Evair, aos 14 minutos – típica compensação, o Palmeiras pressionou mais e reclamou que Zinho sofrera um pênalti, aos 22. De toda maneira, o rival achou novamente o gol de empate, dessa vez com Zinho, cinco minutos depois.

Coube ao São Paulo recomeçar a remar. Cerezo, pouco inspirado e que sentira um estiramento muscular, deu lugar para Dinho, que ganhou o meio de campo. Assim, de tanto que chegou à área oponente, os são-paulinos alcançaram o objetivo aos 36 minutos: Müller iniciou a jogada pelo meio e passou para Palhinha finalizar dentro da área, mas o goleiro defendeu com o pé, afastando a bola para o meio de campo.

O time recomeçou a jogada lá de trás: Válber lançou em profundidade Cafu, pela direita. O lateral, em tarde fenomenal, deu um pique absurdo e conseguiu impedir a saída da bola pela linha de fundo – mais do que isso, cruzou-a para Raí, que chegava pelo meio, dentro da área. O meia, corajoso, ganhou na corrida sob ameaça do pé alto do zagueiro e tocou de cabeça. A bola, caprichosa, tocou no travessão e ultrapassou a linha do gol. São Paulo 3 a 2.

E cabia mais. Com o jogo já nos acréscimos e com quase todo mundo pregado em campo de cansaço, Cafu disparou mais uma vez pela ponta direita, invadiu a área e foi derrubado por Edinho, que não tinha forças nem recursos para muita coisa além disso. Pênalti para o São Paulo, que Raí cobrou e marcou, com força, alto, no canto direito do goleiro, aos 48 minutos. Boa vitória por 4 a 2 no Choque Rei da primeira partida da decisão do Paulistão de 1992.

No vestiário secundário do Morumbis, muita desculpa, lamentação e palavras vazias de autoafirmação por parte do adversário: “Se eles pensam que já acabou, os jogadores do São Paulo vão se arrepender”, comentou Zinho.

Já o craque Raí afirmou que agora poderiam viajar sossegados: “Com essa vitória, vamos poder viajar tranquilos e descontraídos para Tóquio. Agora, o que interessa é o período de adaptação que vamos ter no Japão”.

Os jogadores não tiveram muito tempo para tomar banho e se arrumarem no Morumbis, porque todos os convocados para o Mundial de Clubes se reuniriam no centro de treinamento de onde, às 22h30, partiriam juntos para o Aeroporto de Cumbica.

A torcida são-paulina se despede do time que decidiria, no Japão, o Mundial de 1992.

DEPOIS DA FESTA (E DA RESSACA)

O São Paulo embarcou de volta ao Brasil às 19h horas do dia 14 de dezembro, em voo que partiu do Aeroporto de Narita. Os vencedores chegaram em Cumbica às 6h50 da manhã do dia 15, completamente de ressaca, mas com dois troféus a tiracolo: a Copa Europeia/Sul-Americana e a Copa Toyota.

Com receio que a ressaca do título mundial alterasse o desempenho do time, o treinador passou a semana martelando na cabeça dos atletas que “depois de domingo todo mundo pode plantar bananeira e fazer o que quiser, mas quero seriedade agora”.

A tão desejada e esperada recepção aos campeões mundiais que não pode ser realizada na chegada dos atletas anteriormente, foi concretizada – e com imenso sucesso – no domingo, dia 20 de dezembro, quando 110.887 torcedores (com mais de dois terços de são-paulinos) compareceram ao Morumbis para ver o São Paulo, campeão mundial, decidir o título do Campeonato Paulista contra o Palmeiras.

A meta dos tricolores era não deixar sombra de dúvida sobre qual era o melhor time do Estado de São Paulo, do Brasil e do Mundo, àquela altura. O time jogava pelo empate, mas esse resultado era pouco para a qualidade e a vontade dos são-paulinos em campo. E a supremacia em campo não tardou a surtir efeito.

Aos 24 minutos, Palhinha foi mais esperto na dividida com Mazinho e passou para Müller, que, na entrada da área, cortou para dentro e bateu com o pé direito, colocado e rasteiro, no canto esquerdo do goleiro César: São Paulo 1 a 0.

O Tricolor seguiu trocando passes e criando jogadas com facilidade no primeiro tempo, mas o arqueiro palmeirense impediu a ampliação do placar. Na segunda etapa, porém, os rivais foram mais ao ataque e forçaram grandes intervenções de Zetti, e de Ronaldo Luís, que mais uma vez salvou uma bola em cima da linha.

Foi o necessário para acordar os são-paulinos: pouco depois Müller acertara a trave adversária. Aos 15 minutos, o prego no caixão: Ronaldo Luís cobrou escanteio, o goleiro tentou cortar e deixou a bola escapar. Cerezo, como quem não queria nada, só deu um toquinho de cobertura e enviou a pelota para as redes: São Paulo 2 a 0.

O resultado poderia ter sido três ou quatro a zero. Só Vítor perdeu duas lindas oportunidades, a primeira em um chutaço de longe, e a segunda em um cruzamento que quase enganou o goleiro. No último minuto de jogo, porém, quando o foguetório já se fazia presente no Morumbis, assim como a chuva, o Palmeiras diminuiu a vantagem, com Zinho, fechando a partida em 2 a 1 para o Tricolor.

O rival completava, assim, 16 anos de fila. Já o São Paulo era o campeão absoluto.

“Ganhou o melhor, o time que jogou mais bonito e também o que se aplicou mais no decorrer de todo o campeonato”, resumiu Telê Santana.

Eleito o melhor em campo, Cerezo parecia uma criança, novamente sendo o mais empolgado na comemoração. “Tenho de agradecer aos jovens como Pintado, Ronaldo, Palhinha, e mesmo Raí e Müller: a força que eles me deram foi inacreditável”. O meio-campista, quase extenuado, concluiu: “Esse clube vai ser campeão por muito tempo, é um exemplo de nível internacional”.

Foi o 18º título estadual do São Paulo na história – a quinta vez com um bicampeonato –, antes também campeão de 1931, 1943, 1945, 1946, 1948, 1949, 1953, 1957, 1970, 1971, 1975, 1980, 1981, 1985, 1987, 1989 e 1991. Além de ser a quinta conquista do Tricolor na “Era Telê”, acrescentada ao Campeonato Brasileiro de 1991, ao Campeonato Paulista de 1991, à Copa Libertadores de 1992 e ao Mundial de Clubes de 1992.

O JOGO DO TÍTULO

20.12.1992
São Paulo (SP)
Estádio do Morumbis

SÃO PAULO Futebol Clube 2 x 1 Sociedade Esportiva PALMEIRAS

SPFC: Zetti; Vítor (Válber), Adílson, Ronaldão e Ronaldo Luís; Pintado, Toninho Cerezo (Dinho), Cafu e Raí; Palhinha e Müller. Técnico: Telê Santana.
Gols: Müller, 24′/1; Toninho Cerezo , 15′/2.

SEP: César; Mazinho, Toninho, Edinho Baiano e Dida; César Sampaio, Daniel (Maurilio) e Cuca (Carlinhos); Jean Carlo, Evair e Zinho. Técnico: Otacílio Gonçalves.
Gol: Zinho, 45′/2.

Árbitro: José Aparecido de Oliveira
Renda: CR$ 5.228.880.000,00
Público: 110.887 pagantes

A CAMPANHA

Primeira Fase
12.07.1992 – 1 X 1 – Clube Atlético JUVENTUS (SP)
21.07.1992 – 3 X 3 – ITUANO Futebol Clube (SP)
26.07.1992 – 1 X 0 – Esporte Clube NOROESTE (SP)
30.07.1992 – 1 X 1 – BOTAFOGO Futebol Clube (Ribeirão Preto – SP)
02.08.1992 – 1 X 1 – Clube Atlético BRAGANTINO (SP)
06.08.1992 – 1 X 0 – Associação Atlética INTERNACIONAL (Limeira – SP)
09.08.1992 – 1 X 0 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)
20.08.1992 – 0 X 0 – GUARANI Futebol Clube (SP)
23.08.1992 – 2 X 1 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
05.09.1992 – 2 X 3 – SANTOS Futebol Clube (SP)
08.09.1992 – 5 X 2 – Esporte Clube SANTO ANDRÉ (SP)
10.09.1992 – 1 X 0 – Grêmio Esportivo SÃOCARLENSE (SP)
13.09.1992 – 1 X 0 – Sport Club CORINTHIANS Paulista (SP)
20.09.1992 – 0 X 0 – SANTOS Futebol Clube (SP)
24.09.1992 – 1 X 0 – BOTAFOGO Futebol Clube (Ribeirão Preto – SP)
27.09.1992 – 1 X 1 – Esporte Clube SANTO ANDRÉ (SP)
01.10.1992 – 3 X 0 – Associação Atlética INTERNACIONAL (Limeira – SP)
04.10.1992 – 3 X 0 – Sport Club CORINTHIANS Paulista (SP)
07.10.1992 – 2 X 0 – Grêmio Esportivo SÃOCARLENSE (SP)
11.10.1992 – 2 X 2 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
15.10.1992 – 6 X 0 – Esporte Clube NOROESTE (SP)
18.10.1992 – 0 X 1 – Clube Atlético BRAGANTINO (SP)
22.10.1992 – 2 X 0 – Clube Atlético JUVENTUS (SP)
25.10.1992 – 2 X 1 – GUARANI Futebol Clube (SP)
29.10.1992 – 1 X 2 – ITUANO Futebol Clube (SP)
01.11.1992 – 0 X 3 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)

Segunda Fase
07.11.1992 – 2 X 0 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
11.11.1992 – 3 X 0 – SANTOS Futebol Clube (SP)
14.11.1992 – 4 X 2 – Associação Atlética PONTE PRETA (SP)
18.11.1992 – 2 X 1 – SANTOS Futebol Clube (SP)
21.11.1992 – 0 X 0 – Associação Atlética PONTE PRETA (SP)
28.11.1992 – 3 X 1 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)

Finais
05.12.1992 – 4 X 2 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)
20.12.1992 – 2 X 1 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)

OS CAMPEÕES

NOMEJVEDGMGS
Adílson (ZG)25174400
Alexandre (GL)101001
Antônio Carlos (ZG)312000
Cafu (PT)19133340
Catê (AT)20115420
Cuca (AT)834130
Dinho (VL)26166430
Elivélton (AT)541010
Eraldo (MC)633000
Gilmar (ZG)312000
Ivan (LE)1375150
Lula (ZG)862000
Macedo (AT)1476100
Marcos (GL)100102
Marcos Adriano (LE)1584300
Maurício (AT)1154220
Menta (ZG)101000
Müller (AT)302073120
Palhinha (AT)28196390
Pintado (VL)30197400
Raí (MC)211542150
Rogério Ceni (GL)000000
Ronaldão (ZG)22165110
Ronaldo Luís (LE)1071200
Sérgio Baresi (ZG)202000
Sídnei (VL)202000
Suélio (VL)834100
Toninho Cerezo (MC)13102130
Válber (ZG)19133320
Vítor (LD)26167310
Zetti (GL)322183026

A CLASSIFICAÇÃO FINAL

TimePTJGVEDGMGSSGAP
1São Paulo FC (SP)5234219463293470.6%
2SE Palmeiras (SP)4134169941291255.9%
3AA Ponte Preta (SP)40321412648301856.3%
4Mogi Mirim EC (SP)4032176948321659.4%
5SC Corinthians P (SP)3932159844301456.3%
6A Portuguesa D (SP)38321312742281453.1%
7Guarani FC (SP)3632111474135649%
8Santos FC (SP)3432111294435946.9%
9Ituano FC (SP)282681263129246.2%
10CA Bragantino (SP)2626106102425-146.2%
11CA Juventus (SP)25268992527-242.3%
12EC Noroeste (SP)252697102232-1043.6%
13Botafogo FC (Ribeirão Preto-SP)212677122437-1335.9%
14EC Santo André (SP)1926313102032-1228.2%
15GE Sãocarlense (SP)162648142540-1525.6%
16AA Internacional (Limeira-SP)102626181443-2915.4%
17Rio Branco EC (SP)3426138535201560.3%
18União São João EC (SP)3326129538261257.7%
19Marília AC (SP)302611873629752.6%
20EC XV de Novembro (Piracicaba-SP)302691253528750%
21Olímpia FC (SP)27269982524146.2%
22GE Novorizontino (SP)26269893026444.9%
23A Ferroviária E (SP)242696112522342.3%
24América FC (SJRP-SP)232687113942-339.7%
25São José EC (SP)1926411112234-1229.5%
26AE Araçatuba (SP)192659121628-1230.8%
27EC XV de Novembro (Jaú-SP)172673162450-2630.8%
28GE Catanduvense (SP)9261718948-3912.8%

Por Michael Serra / Arquivo Histórico João Farah

Compartilhe esse conteúdo

Deixe seu comentário