Campeão Paulista de 1975

Campeão Paulista de 1975

Calendário 17/08/2024 - 06:43

No dia 17 de agosto de 1975, o São Paulo venceu a Portuguesa por 3 a 0 nos pênaltis, após um resultado agregado de 1 a 1 em dois jogos decisivos, e conquistou o Campeonato Paulista de 1975, o 11º da história do clube.

Revistas e jornais do título

O relato desse título, porém, começa pouco mais de nove meses antes, quando o Tricolor, no dia 10 de novembro de 1974, no Pacaembu, perdeu por 2 a 1 para o Palmeiras em um jogo válido pelo Paulistão daquela temporada. O placar, aparentemente irrelevante para a posteridade, marcaria o início de uma sequência que até hoje os são-paulinos nunca mais repetiram: 47 jogos invictos.

De 13 de novembro de 1974 até 3 de agosto de 1975, o São Paulo não soube o que era derrota. Foram 36 vitórias e 11 empates, sendo 39 destas partidas válidas pelo Campeonato Paulista (ou de 1974 – oito jogos, ou de 1975 – 31 confrontos).

Foi em meio a essa bela campanha que o Tricolor comandado pelo técnico Jose Poy iniciou a jornada do Paulistão de 1975. O torneio teve um dos regulamentos mais controversos e complicados em todos os tempos, com mudanças nas regras no decorrer do certame.

Foi disputado por 19 equipes em dois turnos, com os vencedores de cada etapa disputando o título em duas partidas finais, caso algum time não vencesse as duas fases. Até aí, tudo bem. Contudo, se o primeiro turno foi definido de maneira simples, no sistema de todos contra todos, o segundo…

Os times foram divididos em duas chaves, de 10 e 9 clubes, que competiram apenas contra adversários de fora do próprio grupo, classificando-se os três melhores de cada lado para um hexagonal de turno único, que definiu o campeão – enfim – do segundo turno.

No dia 2 de março de 1975, o Tricolor estreou na competição muito bem, goleando o Paulista de Jundiaí por 4 a 0 no Morumbis, com gols de Chicão, Muricy, Zé Carlos e Serginho Chulapa. O time seguiu na toada superando o Comercial em Ribeirão Preto, 2 a 0, e a Ferroviária, com nova goleada em casa, 4 a 0. Depois de um empate sem gols com o Guarani, frente aos torcedores são-paulinos, novas vitórias contra o Marília, no Pacaembu, por 2 a 1 e contra o América, em São José do Rio Preto, por 1 a 0.

O primeiro clássico do São Paulo na competição foi o Majestoso, no dia 29 de março, no Pacaembu. E, graças aos gols de Serginho Chulapa e Pedro Rocha, o Tricolor venceu o Corinthians por 2 a 0, sem tomar conhecimento do rival. Com a estima em alta, os são-paulinos seguiram triunfantes, com vitórias contra XV de Piracicaba, 1 a 0; Portuguesa Santista, 1 a 0; Ponte Preta, 2 a 1; Botafogo, 1 a 0 e Juventus, 3 a 2, empatando somente com a Portuguesa, 0 a 0 na segunda partida dessa série.

No dia 4 de maio, o Santos foi ao Morumbis com a intenção de pôr fim à série invicta dos tricolores, que poderia chegar ali, a 30 partidas. Contudo, Pedro Rocha, com dois gols, impediu as pretensões santistas de serem levadas a cabo, e o São Paulo venceu por 2 a 0.

Após vencer o São Bento por 2 a 1 e o Saad por 1 a 0, o Tricolor chegou em Bauru, no dia 18 de maio de 1975 podendo conquistar antecipadamente o título de campeão do primeiro turno do Campeonato Paulista (e, assim, obter a vaga para a final do torneio), como também podendo levar para o Morumbis outro importante troféu: a Taça dos Invictos.

Dito e feito, mesmo com um empate simples, 0 a 0, contra o Noroeste, o São Paulo conquistou os dois títulos e trouxe vários troféus para a galeria do clube na capital paulista. Finalista, terminou o primeiro turno com 15 vitórias, três empates e 33 pontos: seis a mais que o Corinthians, segundo colocado.

O tumultuoso segundo turno teve início com outro clássico, o Choque-Rei, no dia 25 de maio, com o time adversário louco para encerrar a história marca são-paulina. Houve muita conversinha e provocação, mas no fim das contas, o São Paulo, com gol de Pedro Rocha (de falta), passou por cima de tudo isso e venceu mais uma vez.

Foi a deixa para o time embalar ainda mais e sobrar perante os oponentes da fase inicial do returno. O Tricolor somou oito vitórias e dois empates nos dez jogos do período, com direito a nova vitória sobre o Santos, por 1 a 0, e goleada de 5 a 0 para cima do Noroeste, no Pacaembu. O primeiro lugar e os pontos obtidos no grupo, porém, seriam inúteis para o hexagonal a seguir.

As engrenagens são-paulinas, que funcionaram tão bem durante todo o certame, travaram nesse momento. O time empatou com a Portuguesa e o Palmeiras e venceu apenas o América, de São José do Rio preto, antes de, infelizmente, perder a histórica invencibilidade de 47 jogos frente ao Santos, no Morumbis, no dia 7 de agosto de 1975, ao ser superado pelo time do litoral por 2 a 1.

Para piorar, o resultado deixou o time com apenas quatro pontos no hexagonal, empatado com o mesmo Santos e atrás da Portuguesa, que somava seis pontos, faltando apenas uma rodada para a definição do campeão do segundo turno. No dia 10 de agosto, a absurda rodada tripla no Morumbis definiria o vencedor.

Os eliminados Palmeiras e América fariam a preliminar, enquanto Santos e Portuguesa ficariam para a partida de fundo, após o embate entre São Paulo e Corinthians. A dupla San-São venceu (por 1 a 0 e 2 a 1, respectivamente), o que gerou uma grande confusão que quase paralisou o campeonato na justiça desportiva: um empate tríplice.

São Paulo, Santos e Portuguesa terminaram o hexagonal com seis pontos ganhos. Contudo, um abandono de jogo do América contra a Portuguesa, que valeu os pontos para a Lusa, era questionado no TJD pelo time tricolor e pelo alvinegro. Após o término do hexagonal, os são-paulinos ainda levaram também o regulamento à justiça.

A Federação Paulista e a Portuguesa defendiam que o critério de desempate, o saldo de gols, só seria contado a partir do hexagonal final – o que resultaria em Lusa campeã. O time do Morumbi, porém, defendia que as contas deviam incluir a fase inicial do segundo turno.  Afinal, o que estava em disputa ali no hexagonal era o título daquele turno, o turno inteiro. Esta visão daria os títulos, não somente o do returno, ao São Paulo.

Acontece que, por lapso daqueles que aprovaram o regulamento, não era isso que constava no texto dele. O que valia era, apenas, o hexagonal. Assim, São Paulo e Portuguesa decidiriam o Campeonato Paulista de 1975 em duas partidas no Morumbis.

A disputa prometia ser acirrada. Para se ter ideia, os últimos dez jogos anteriores entre esses dois times acabaram empatados. Ou seja, desde 11 de julho de 1973 ninguém vencia ninguém ali, entre si. Como nota: é a maior sequência de empates do São Paulo contra qualquer adversário até hoje.

Indo contra todos os prognósticos, porém, na quinta-feira à noite, dia 14 de agosto de 1975, Pedro Rocha, aos 46 minutos do primeiro tempo, depois de cruzamento de Terto, em bola recuperada por Muricy, marcou o gol que daria a vitória são-paulina na primeira final do Paulistão.

Três dias depois, porém, Enéas reverteu a vantagem são-paulina, com um gol na primeira etapa. Para piorar, Muricy foi expulso poucos minutos depois por causa de uma encenação Dicá, que rendeu o cartão vermelho de Dulcídio Wanderley Boschilia para o atacante são-paulino.

O Tricolor, apesar da desvantagem numérica, não recuou, e o confronto ficou aberto, com ambas as equipes desperdiçando várias e boas oportunidades. Todavia, os minutos se exauriram e ninguém voltou a balançar as redes.

De nada valeram todas os gols, pontos e vantagens acumuladas pelo São Paulo ao longo de todo aquele extenso campeonato. Haveria mais 30 minutos de prorrogação. Se nada mudasse ainda assim, então, pênaltis. E nada mudou.

Nas penalidades, um nome se elevaria mais do que todos: o do goleiro, Waldir Peres.

Pedro Rocha começou batendo para o Tricolor: gol. Waldir então brilhou e defendeu o chute de Dicá. Serginho Chulapa, na sequência, ampliou. E Tatá, logo depois, não conseguiu superar o gigante são-paulino debaixo da trave, que novamente defendeu a batida lusa. O volante Chicão acertou a terceira cobrança e colocou toda a pressão para cima de Wilsinho.

Dessa vez, nem foi preciso que Waldir defendesse, o adversário chutou para fora, a torcida invadiu o campo para comemorar e levar o arqueiro tricolor nos ombros, e o São Paulo sagrou-se campeão paulista de 1975!

Jogo do título

17.08.1975
São Paulo (SP)
Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi)
Associação PORTUGUESA de Desportos 1 X 0 SÃO PAULO Futebol Clube
Tempo Normal: APD 1 x 0 SPFC; Prorrogação: APD 0 x 0 SPFC. Nos pênaltis 3×0 para o SPFC.

APD: Zecão; Cardoso, Mendes, Calegari e Santos; Badeco e Dicá; Antônio Carlos, Enéas, Tatá e Wilsinho.
Gol: Enéas, 31′/1.

SPFC: Waldir Peres; Nelson, Paranhos, Samuel e Gilberto Sorriso; Chicão, Pedro Rocha e Zé Carlos (Silva); Terto, Serginho e Muricy. Técnico: José Poy.
Expulsões: Muricy

Árbitro: Dulcídio Wanderley Boschilla
Renda: CR$ 1.268.735,00
Público: 57.137 pagantes

Pênaltis
Pedro Rocha – gol | Tatá – perdeu (W. Peres)
Serginho – gol | Dicá – perdeu (por cima)
Chicão – gol | Wilsinho – perdeu (W. Peres)

Campanha

Primeiro Turno
02.03.1975 – 4 X 0 – PAULISTA Futebol Clube (SP)
05.03.1975 – 2 X 0 – COMERCIAL Futebol Clube (Ribeirão Preto – SP)
08.03.1975 – 4 X 0 – Associação FERROVIÁRIA de Esportes (SP)
16.03.1975 – 0 X 0 – GUARANI Futebol Clube (SP)
19.03.1975 – 2 X 1 – MARÍLIA Atlético Clube (SP)
23.03.1975 – 1 X 0 – AMÉRICA Futebol Clube (São José do Rio Preto – SP)
29.03.1975 – 2 X 0 – Sport Club CORINTHIANS Paulista (SP)
05.04.1975 – 1 X 0 – Esporte Clube XV de Novembro (Piracicaba – SP)
13.04.1975 – 0 X 0 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
16.04.1975 – 1 X 0 – Associação Atlética PORTUGUESA (Santos – SP)
20.04.1975 – 2 X 1 – Associação Atlética PONTE PRETA (SP)
23.04.1975 – 1 X 0 – BOTAFOGO Futebol Clube (Ribeirão Preto – SP)
26.04.1975 – 3 X 2 – Clube Atlético JUVENTUS (SP)
04.05.1975 – 2 X 0 – SANTOS Futebol Clube (SP)
07.05.1975 – 2 X 1 – Esporte Club SÃO BENTO (SP)
10.05.1975 – 1 X 0 – SAAD Esporte Clube (SP)
18.05.1975 – 0 X 0 – Esporte Clube NOROESTE (SP)
25.05.1975 – 1 X 0 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)

Segundo Turno
29.05.1975 – 3 X 0 – Associação Atlética PORTUGUESA (Santos – SP)
01.06.1975 – 3 X 1 – MARÍLIA Atlético Clube (SP)
08.06.1975 – 1 X 1 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
15.06.1975 – 1 X 0 – PAULISTA Futebol Clube (SP)
25.06.1975 – 3 X 0 – Esporte Club SÃO BENTO (SP)
29.06.1975 – 1 X 0 – SANTOS Futebol Clube (SP)
05.07.1975 – 3 X 1 – COMERCIAL Futebol Clube (Ribeirão Preto – SP)
10.07.1975 – 5 X 0 – Esporte Clube NOROESTE (SP)
13.07.1975 – 4 X 2 – BOTAFOGO Futebol Clube (Ribeirão Preto – SP)
20.07.1975 – 1 X 1 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)

Hexagonal do Segundo Turno
27.07.1975 – 1 X 1 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
30.07.1975 – 1 X 0 – AMÉRICA Futebol Clube (São José do Rio Preto – SP)
03.08.1975 – 0 X 0 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)
07.08.1975 – 1 X 2 – SANTOS Futebol Clube (SP)
10.08.1975 – 2 X 1 – Sport Club CORINTHIANS Paulista (SP)

Finais
14.08.1975 – 1 X 0 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
17.08.1975 – 0 X 1 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP) 3 X 0 pen.

Os campeões

JOGADOR J V E D GM GS %PG GM GS
Nelson (LD) 34 25 7 2 0 0 80,39 0,00 0,00
Terto (AT) 33 24 7 2 5 0 79,80 0,15 0,00
Waldir Peres (GL) 33 24 7 2 0 13 79,80 0,00 0,39
Pedro Rocha (MC) 32 24 6 2 11 0 81,25 0,34 0,00
Muricy (AT) 31 23 6 2 4 0 80,65 0,13 0,00
Paranhos (DF) 31 22 7 2 0 0 78,49 0,00 0,00
Arlindo (DF) 30 22 7 1 0 0 81,11 0,00 0,00
Gilberto Sorriso (LE) 29 22 5 2 2 0 81,61 0,07 0,00
Chicão (VL) 28 20 6 2 5 0 78,57 0,18 0,00
Serginho Chulapa (AT) 28 23 4 1 22 0 86,90 0,79 0,00
Zé Carlos (MC) 23 14 7 2 2 0 71,01 0,09 0,00
Mauro Madureira (AT) 22 16 5 1 4 0 80,30 0,18 0,00
Ademir (MC) 15 13 2 0 0 0 91,11 0,00 0,00
Silva (MC) 14 9 3 2 0 0 71,43 0,00 0,00
Piau (AT) 11 8 2 1 1 0 78,79 0,09 0,00
Forlán (LD) 10 9 1 0 0 0 93,33 0,00 0,00
Samuel (DF) 9 8 0 1 0 0 88,89 0,00 0,00
Liminha (AT) 5 4 1 0 1 0 86,67 0,20 0,00
Eron (AT) 4 3 1 0 1 0 83,33 0,25 0,00
Osmar (LE) 3 2 1 0 0 0 77,78 0,00 0,00
Pascoalim (GL) 2 2 0 0 0 3 100,00 0,00 1,50
Mário (DF) 1 1 0 0 0 0 100,00 0,00 0,00
Paulinho (AT) 1 1 0 0 0 0 100,00 0,00 0,00
Zé Roberto (AT) 1 1 0 0 0 0 100,00 0,00 0,00
Rubinho (AT) 1 1 0 0 0 0 100,00 0,00 0,00

O artilheiro da competição

Serginho Chulapa, 22 gols

Por Michael Serra / Arquivo Histórico João Farah

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