A era de ouro do futebol são-paulino, o início dos anos 90, trouxe, além de inúmeras conquistas, um calendário sempre apertado que comprometia o desempenho físico dos atletas. Em 1993, para se ter um exemplo, o São Paulo realizou 97 partidas – em momentos daquela temporada, o clube realizou um jogo e cada dois dias por quase três semanas consecutivas. Não seria muito diferente no ano seguinte (foram 92 jogos em 1994).
Mas o que seria um problema para muitos, o Tricolor transformou em oportunidade. Visando aproveitar e desenvolver ao máximo os talentos das categorias de base, que já naquela época usufruíam a melhor estrutura possível no CT da Barra Funda, os dirigentes são-paulinos resolveram resgatar a tradição do time chamado Expressinho.
O Expressinho surgiu nos anos 40, quando o time de aspirantes do São Paulo foi pentacampeão consecutivo do estadual (1943-47), revelando jogadores que foram aproveitados no time principal do Tricolor, como Yeso, Antoninho e Leopoldo. Aliás, o nome “Expressinho” é uma homenagem ao “Expresso da Vitória”, equipe do Vasco da Gama que, na época, era a única agremiação que rivalizava em poder com o Rolo Compressor são-paulino.
A COPA CONMEBOL
Em 1994, o comandante do Expressinho era Muricy Ramalho, que havia sido elevado ao posto de auxiliar técnico do Mestre Telê após a saída de Márcio Araújo e conquistar o Torneio Internacional de Croix, na França, com o time júnior. Além de substituir o time principal são-paulino em partidas no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, o Expressinho foi incumbido de disputar integralmente a Copa Conmebol daquele ano.
Ou seja, um time praticamente composto de jogadores sub-20, mesclado com alguns reservas experientes, disputaria um torneio internacional de estilo “mata-mata” vestindo a camisa tricolor contra esquipes tradicionais do futebol sul-americano.
E o melhor de tudo: deu resultado! Duplamente! O são-paulinos conquistaram o título e nomes como Rogério Ceni, Juninho e Denílson conquistaram de vez espaço no futebol brasileiro. Juninho, inclusive, chegou a disputar dois jogos em um mesmo dia (16 de novembro, contra Sporting Cristal, pela Conmebol, e Grêmio, pelo Brasileiro).
Nesta campanha, o “tricolorzinho” desbancou um oponente de peso em competições eliminatórias logo na primeira rodada: o Grêmio, nos pênaltis, após dois empates em zero a zero. Nas quartas de final, derrubaram os peruanos do Sporting Cristal e na fase seguinte outra decisão por pênaltis, dessa vez contra o Corinthians, com direito a cobrança perfeita de Rogério Ceni e duas defesas contra os rivais Gralak e Leandro Silva.
A GOLEADA NA FINALÍSSIMA
O primeiro jogo da decisão da Copa Conmebol foi no Morumbi, no dia 14 de dezembro, e pouco mais de quatro mil são-paulinos presenciaram a maior goleada da história de qualquer final sul-americana até hoje. Detalhe: de virada!
O Peñarol, equipe tricampeã do mundo e pentacampeã da Libertadores, começou o jogo de maneira implacável. Logo aos 4 minutos abriu o marcador com Aguillera, em um belo disparo de fora da área.
A partir daí, no entanto, só deu Tricolor, com um verdadeiro show dos atacantes Catê. Caio e Toninho. Caio marcou o gol de empate do São Paulo perto do fim do primeiro tempo, após cobrança de escanteio e toque de oportunismo. O gol da virada veio com Catê, aos 12 minutos da etapa complementar, depois de bela assistência de Toninho e falha do goleiro uruguaio.
A pérola da noite aconteceu no terceiro gol são-paulino, aos 26 minutos. Catê, endiabrado, fez linda jogada pela direita até a linha de fundo e tocou para trás, Pereira chutou de primeira, forte e no travessão! No rebote, Toninho emplacou uma bicicleta de canhota indefensável! Golaço!
Quatro minutos depois, cruzamento de Ronaldo Luís pela esquerda e Caio marcou mais um, agora de cabeça. 4 a 1! Já perto do final da decisão, aos 38 minutos, Catê aproveitou rebote do goleiro em chute de Pereira e ampliou. Por fim, 41 minutos de jogo, o camisa sete chegou a trinca de gols na partida em uma bela jogada individual: disparando do meio campo, ultrapassou os marcadores, driblou o goleiro e só tocou para às redes! 6 a 1 para o São Paulo!
Com a grande goleada logo na primeira partida da decisão, o resultado do jogo de volta, uma semana depois (0 x 3 para os uruguaios, e ainda assim com Rogério Ceni tendo uma das melhores partidas da carreira), pouco influiu e o Tricolor sagrou-se campeão da Copa Conmebol de 1994!
A FICHA DO JOGO
14.12.1994 Copa Conmebol – Final
São Paulo (SP) Estádio Cícero Pompeu de Toledo – Morumbi
SÃO PAULO Futebol Clube (SP) 6 X 1 Club Atlético PEÑAROL (Uruguai)
SPFC: Rogério Ceni; Pavão, Nelson, Bordon e Ronaldo Luís/capitão; Mona, Pereira e Denílson; Catê, Caio e Toninho. Técnico: Muricy Ramalho
Gols: Caio, 41’/1ºT; Catê, 12’/2ºT; Toninho (bicicleta), 26’/2ºT; Caio (cabeça), 30’/2ºT; Catê, 38’/2ºT; Catê, 44’/2ºT
CAP: Oscar Ferro; Washington Tais; Oscar Aguirregaray (Sergio Martínez), Enrique de los Santos e Robert Lima; Nelson Gutiérrez/capitão, Diego Dorta, Danilo Baltierra e Pablo Bengoechea (Marcelo Otero); Carlos Aguillera e Dario Silva. Técnico: Gregório Pérez
Gols: Carlos Aguillera, 4’/1ºT
Árbitro: Iván Guerrero Levancini (Chile)
Advertências: Nelson (SPFC), Bengoechea, Aguirregaray e Gutiérrez (CAP)
Renda: R$ 29.050,00
Público: 4.995 pagantes
A CAMPANHA
Oitavas-de-Final
Quartas-de-Final
Semifinais
Finais
A CLASSIFICAÇÃO FINAL
Time | PTS | JGS | VIT | EMP | DER | GM | GS | SG | |
1º | São Paulo FC (SP) | 9 | 8 | 3 | 3 | 2 | 15 | 11 | 4 |
2º | CA Peñarol (URU) | 9 | 8 | 4 | 1 | 3 | 16 | 12 | 4 |
3º | SC Corinthians P (SP) | 9 | 6 | 4 | 1 | 1 | 21 | 11 | 10 |
4º | CFP Universidad de Chile (CHL) | 7 | 6 | 3 | 1 | 2 | 13 | 6 | 7 |
5º | C Sporting Cristal (PER) | 5 | 4 | 2 | 1 | 1 | 4 | 4 | 0 |
6º | Club Cerro Corá (PAR) | 4 | 4 | 2 | 0 | 2 | 9 | 10 | -1 |
7º | CA San Lorenzo A (ARG) | 4 | 4 | 1 | 2 | 1 | 5 | 6 | -1 |
8º | Minervén FC (VEN) | 2 | 4 | 0 | 2 | 2 | 3 | 12 | -9 |
9º | Danubio FC (URU) | 2 | 2 | 1 | 0 | 1 | 1 | 2 | -1 |
10º | CA Huracán (ARG) | 2 | 2 | 1 | 0 | 1 | 3 | 5 | -2 |
11º | CA Lanús (ARG) | 2 | 2 | 0 | 2 | 0 | 3 | 3 | 0 |
12º | Botafogo FR (RJ) | 2 | 2 | 0 | 2 | 0 | 1 | 1 | 0 |
13º | Grêmio FBPA (RS) | 2 | 2 | 0 | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 |
14º | EC Vitória (BA) | 1 | 2 | 0 | 1 | 1 | 3 | 4 | -1 |
15º | CD El Nacional (EQU) | 0 | 2 | 0 | 0 | 2 | 1 | 3 | -2 |
16º | CD Oriente Petrolero (BOL) | 0 | 2 | 0 | 0 | 2 | 1 | 9 | -8 |