No dia 15 de novembro de 1937, os tricolores partiram para Salvador, onde realizaram uma série de cinco jogos contra clubes locais, em excursão promovida pelo Yankee FC, que curiosamente não enfrentou o Tricolor. Foi a primeira viagem são-paulina não realizada pelo sistema rodoviário ou ferroviário. Os tricolores embarcaram no navio Aratimbó na madrugada do dia 10 de novembro com destino à capital baiana, partindo do porto de Santos.
Como curiosidade, o navio Aratimbó, de classe Araranguá, era um dos quatro “Aras” conhecidos pela Marinha Brasileira, junto ao Araraquara – afundado por submarino alemão em 1942 –, o Araçatuba e o Araranguá. Construído pela Cantiere Federale per Construzione Navale Triestino, em Monfalcone, na Itália, ele foi lançado em 9 de outubro de 1927 e concluído em abril de 1928. Tratava-se de um cargueiro convencional, com motores FIAT movidos a diesel, armazenamento frigorífico e que prestava, também, serviço para passageiros em linhas de cabotagem.
Em 1966, virou sucata no Rio de Janeiro.
A delegação foi formada por Benedito Carlos de Souza, chefe; Edmundo Toledo e Jorge Moura Albuquerque, diretores; Vicente Feola, técnico; King e Jaime, goleiros; Annibal, Horácio e Bruno, zagueiros; Xaxá, Acosta, Sidney, Felipelli, Graceff e Piolim, médios; Ministrinho, Pixe, Milani, Douglas, Carioca e Junqueirinha, atacantes; além do roupeiro Serrone.
Os tricolores chegaram a Salvador apenas na manhã do dia 15 de novembro, e o primeiro jogo da empreitada seria ainda nessa tarde. O elenco, hospedado no Hotel Sul-Americano, sofreu os efeitos da longa viagem. “Que coisa horrível é viajar, sr, jornalista. A gente fica zonzo. Não liga duas coisas. Mas vou descansar no hotel e isto passará. À tarde, no Campo da Graça, já meu conhecido, irei jogar uma parada dura”, afirmou Junqueirinha ao jornal Cidade de Salvador.
Se o condicionamento físico da equipe foi muito afetado ou não pelo traslado, não é possível afirmar (apesar de a imprensa baiana dizer que sim, com todas as letras), mas o fato é que a campanha tricolor na Bahia foi quase uma tragédia: quatro derrotas e apenas uma vitória – esta, porém, espetacular.
O primeiro confronto foi contra o Bahia, então detentor do título estadual. Os são-paulinos foram derrotados por 5 a 4. Depois de estarem à frente no marcador por duas vezes, chegaram a perder por 5 a 2. Nada mau, considerando todo o transtorno do deslocamento. O periódico O Dia3, republicando artigo do Imparcial, de Salvador, pôs a culpa no cansaço e nas dimensões do gramado.
Este último jornal, aliás, fez uma comparação digna de nota, nomeando o tricolor baiano de “Esquadrão de Aço” e o paulista de “Esquadrão da Fé” – o que demonstra que o apelido de “Clube da Fé” já tinha ultrapassado as fronteiras estaduais – e que, de alguma forma, a conquista são-paulina de 1931, que originou o termo “Esquadrão de Aço”, inspirou o time de Salvador, vencedor do estadual em 1931, 1933, 1934 e 1936.
No jogo seguinte, dia 18, aconteceu a grande atuação de toda a excursão: 7 a 0 em cima do Ypiranga baiano, gols de Milani (dois), Carioca (dois), Ministrinho, Junqueirinha e Pixe. O adversário vinha de uma série invicta no returno estadual (e seria o vice-campeão local da temporada). O jornal Diário da Noite estampou em letras garrafais a manchete “Nunca o S. Paulo F. C. conseguiu uma victoria tão consagradora e expressiva como a de hontem, com o magnifico triumpho que obteve sobre o Ypiranga”. E foi além: “7 a 0 que ilustram com fidelidade a superioridade absoluta dos rapazes treinados por Vicente Feola”.
Como prêmio, o Tricolor trouxe para casa o troféu “Taça São Paulo FC x Ypiranga”. Título nada criativo, mas taça é taça…