Leônidas da Silva foi um divisor de águas da história do São Paulo Futebol Clube. É bem verdade que o maior jogador da história do Brasil até surgir o próprio Leônidas havia jogado no mesmo São Paulo (Arthur Friedenreich), mas a chegada do Diamante Negro ao Tricolor transformou o clube, representou com o futebol e com as conquistas uma mudança de patamar, de paradigma.
O São Paulo se tornou verdadeira e indiscutivelmente grande e nunca regrediu dessa posição. Junto ao Estádio do Morumbi, à era Raí-Telê, e à era Rogério Ceni, a era Leônidas é um dos quatro pilares fundamentais do sentimento de “sampaulinidade” que move a todos os tricolores.
A chegada de Leônidas ao São Paulo é por si só uma história marcante. Foi anunciado pela imprensa como reforço do Tricolor no dia 1º de abril. Obviamente, a torcida, local ou rival, não acreditou. O craque estava sem jogar há oito meses, fora de forma, e muitos acreditavam que estava acabado para o futebol. Que Leônidas não seria mais o mesmo Diamante Negro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1938, em que encantou o mundo.
Para aumentar a descrença geral, a transferência do Flamengo para o São Paulo se deu ao custo de 200 contos de réis – o maior montante já pago em uma negociação de jogador de futebol até então, e por muito tempo, no Brasil.
Leônidas chegou a São Paulo vindo do Rio de Janeiro em uma tarde de sexta-feira, 10 de abril de 1942, na Estação do Norte, no bairro do Brás, onde foi recebido por uma multidão de 10 mil pessoas – que realizaram uma verdadeira passeata, carregando o ídolo nos ombros até a sede do São Paulo, na Rua Dom José de Barros.
O Campeonato Paulista já estava em disputa, e os diretores do São Paulo, visto o estado físico de Leônidas, preferiram postergar a estreia do centroavante até que estivesse com mínima condição de jogo. E isso se deu somente a 24 de maio de 1942, justamente em um clássico majestoso, São Paulo e Corinthians, no Pacaembu.
O clima para o jogo era mais tenso que a de uma final de campeonato. Os portões do estádio foram abertos às 10h da manhã. Às 13h, o Pacaembu já estava praticamente lotado, e os bondes e ônibus na região, vazios. Às 14 os portões foram fechados, com as arquibancadas superlotadas. Mais de 70 mil pessoas presentes, exatamente 72.018 pagantes – e vai saber lá quantos bicões… Um réporter de A Gazeta assim descreveu o que via dentro e fora do Pacaembu: “para se ter idéia da loucura, o público que estava no morro das avenidas dava para encher o Parque São Jorge”.
Ocorreram ainda duas preliminares antes da peleja principal. Então, faltando dez minutos para as 16h, o apito soou, Leônidas deu o toque inicial e a bola rolou. Começava a Era Leônidas e a Década São Paulina, década a qual o São Paulo conquistou a soberania no estado, com cinco títulos conquistados (sendo um deles invicto, em 1946). Foi a era do Rolo Compressor, onde o São Paulo atropelava os concorrentes.
O jogo? Bom, o jogo acabou empatado em 3 a 3, com o rival empatando ao final, quando o São Paulo estava com um jogador a menos (Waldemar de Brito se contundiu e não eram permitidas substituições à época). Leônidas não marcou, mas foi o responsável pelo primeiro e terceiro gols do Tricolor.
O craque esteve bem, mesmo para estado físico em que se encontrava, mas o jornal A Hora (espécie de sensacionalista populista) estampou no dia seguinte o letreiro: “São Paulo compra bonde de 200 contos” – como se o clube tivesse comprado um jogador velho e ultrapassado. Leônidas nunca engoliu essa provocação e provou, seja ao marcar o primeiro gol de bicicleta em São Paulo em outro clássico, contra o Palmeiras, seja ao se tornar pedra fundamental do time que se tornou imbatível na década de 1940.
Hoje, 70 anos depois, o São Paulo olha o que se passou, reconhecendo e sendo extremamente grato a tudo que aquele pequeno diamante negro proporcionou não somente à própria entidade, mas a milhares de são-paulinos, do passado, do presente e do futuro.
Jogos disputados pelo SPFC: 211
Estreia: 24/05/1942
Último jogo: 03/12/1950
Gols Marcados no SPFC: 144
Nascimento: 06/09/1913. Rio de Janeiro
(RJ).
Títulos conquistados no SPFC: Campeão Paulista de
1943, 1945, 1946, 1948 e 1949.
CORINTHIANS 3 X 3 SÃO PAULO
Competição: Campeonato Paulista de 1942 –
Turno
Data: 24 de maio de 1942
Local: São Paulo (SP) Estádio Municipal de São
Paulo – Pacaembu
Árbitro: Jorge Gomes de Lima “Joreca” (futuro
técnico do São Paulo)
Renda: 244:414$000 Réis
Público: 71.281 pagantes
SPFC: Doutor; Fiorotti e Virgílio; Waldemar Zaclis, Lola e Silva; Luizinho, Waldemar de Brito, Leônidas, Teixeirinha e Pardal. Capitão: Fiorotti. Técnico: Conrado Ross
Gols: Lola, 30/1; Luizinho, 15/2; Teixeirinha, 36/2
Rival: Joel; Agostinho e Chico Preto; Jango, Brandão e Dino; Jerônimo, Milani, Servílio, Eduardinho e Hércules. Técnico: Rato
Gols: Jerônimo, 10/1; Servílio, 3/2; Servílio, 43/2