Foram muito mais do que 180 minutos de decisão, muito mais do que duas partidas finais eletrizantes, muito mais do que uma angustiante disputa de pênaltis. Foi a vida de cada jogador, a vida de todo torcedor, a própria existência do São Paulo Futebol Clube, em si, reflexo de tudo o que suou e batalhou em 62 anos de história, que criou uma singularidade no tempo e que fez parecer uma eternidade aquele único instante em que o goleiro com o manto das três cores tão apaixonantes saltou e defendeu o último chute rival, selando o destino. Agora, de fato, por toda a eternidade, o São Paulo é Campeão da América.
A decisão!
O técnico Telê Santana levou ao campo a escalação titular do Tricolor, com Ivan compondo a linha defensiva, com Antônio Carlos, Ronaldão e Cafu mais aberto e livre pela ponta, como sempre. Adilson compôs a média-volância com Pintado, deixando Raí solto para a armação do time. No ataque, o trio Palhinha, Müller e Elivélton, ágeis e em constante troca de posições. E claro, no gol, a experiência de Zetti.
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O time argentino, comandado por Marcelo Bielsa, veio ao Morumbi com quase mesma escalação da partida do jogo de ida, no Gigante del Arroyito, a única alteração foi o centro Llop, no lugar de Raggio. Para os estrangeiros, bastava o empate para que tirassem o troféu da Copa Libertadores do solo nacional.
O primeiro tempo
Sabendo disso, os tricolores partiram para o ataque desde o primeiro minuto de jogo, sem exagero. Cafu fez boa jogada pela direita e cruzou com perigo, que foi afastado pelo zagueiro Pocchetino para escanteio. Quatro minutos depois, novamente o camisa 2 avançou à linha de fundo, driblou dois e sofreu falta. Pouco após, outra pancada em Cafu, que resultou em cartão amarelo para Berti.
Endiabrado, o lateral-direito do Tricolor cobrou a falta direto para o gol e quase enganou o goleiro Scoponi, que com um tapa evitou o primeiro gol do jogo. Mais quatro minutos adiante e uma linda tabelinha no meio de campo do São Paulo termina com Palhinha batendo prensado para o gol e com a bola subindo um pouco acima do travessão portenho.
Aos 16 minutos, nova cobrança de falta na qual Pintado rolou para Ivan chutar rasteiro: a bola desviou na barreira e saiu em escanteio. Desse lance, após rebatida da zaga, a pelota sobrou para Cafu arrematar de fora da área. O tiro do são-paulino passou tirando tinta da trave.
O primeiro susto dos são-paulinos veio aos 22 minutos de jogo. Confusão na zaga e a bola sobrou para Zamora bater para o gol e acertar a trave de Zetti. Não era possível esmorecer um mísero minuto. Na jogada seguinte, o Tricolor quase abriu o placar com Müller, que tentou duas vezes, mas caiu dentro da pequena área, reclamando pênalti.
Mais uma bela jogada dos tricolores veio com Palhinha, que passou de calcanhar a Müller e este tocou para Raí chutar com perigo, mas por cima do gol, aos 25 minutos. Já aos 29, a melhor chance do São Paulo na partida, até então: Adilson tabelou com Palhinha e este chutou forte e acertou o travessão! No rebote, Raí também quase balançou as redes.
O time seguiu pressionando. Aos 37 minutos, em duas oportunidades, novamente ficou no quase! Ivan cruzou, Raí cabeceou e Müller chutou para gol, meio desequilibrado, com Gamboa salvando os argentinos quase em cima da linha. Na sequência, Palhinha cobrou escanteio, o camisa 10 desviou e Ronaldão, de puxeta, por pouco marcou um golaço!
Apesar do volume massivo do ataque são-paulino, não teve jeito e o primeiro tempo acabou como começou: 0 a 0.
O segundo tempo
Com Domizzi no lugar de Martino, o Newell’s inesperadamente passou ao ataque. Aos 4 minutos, Lunari chutou de fora da área e Zetti defendeu facilmente. Aos 10 minutos, vacilo do setor defensivo do Tricolor e Zamora bateu rasteiro no canto esquerdo do arqueiro são-paulino, que praticou excelente defesa. E não parou aí. Um minuto depois, Domizzi avançou sozinho, espetacularmente lançando para si mesmo graças a um corta luz de Mendoza, driblou Zetti e tocou manso para às redes. Sorte que Adilson salvou em cima da linha!
Mas ok. Pronto. Não era possível dar mais espaço aos argentinos. O São Paulo tinha que dominar o jogo. Estava atrás no placar dos 180 minutos e era preciso controlar a partida. A torcida, em coro, pedia que Macedo entrasse no jogo e Telê, de pronto, atendeu ao pedido: o atacante substituiu Müller.
Bastou um minuto e um toque na bola para que Macedo – predestinado – decretasse a sorte do São Paulo na partida: pênalti em cima dele!
21 minutos. Gol do São Paulo! Gol de Raí, de pênalti, deslocando o goleiro!
O Morumbi, repleto com mais de 105 mil pagantes (por volta de 120 mil presentes), ferveu. Faltava pouco. Faltava somente mais um gol para que o Tricolor conquistasse a América. Contudo, o time argentino soube se portar e segurar o ímpeto são-paulino. O jogo esfriou. Praticamente não houve mais jogadas de perigo para ambos os times, salvo pela linda jogada de Elivelton, pela meia-esquerda, que terminou com a bola balançando as redes pelo lado de fora, aos 37 minutos.
Não é loteria
A sombra das penalidades já pairava sobre todos.
Pênaltis, os quais, levaram os torcedores argentinos ao limiar da sanidade depois de vencerem o América de Cali, na semifinal, por 11 a 10 nessa modalidade. O que, de certa maneira, foi uma vantagem para os tricolores, pois. Valdir Joaquim de Moraes, preparador de goleiros e assistente de Telê Santana, observou e anotou o modo de bater de cada um dos atletas do Newell’s.
Bastou a Müller, que havia sido substituído, cantar antecipadamente, e de trás da meta, a Zetti as prováveis execuções. A série começou com os argentinos batendo.
Berizzo perdeu. Raí marcou novamente. Zamora venceu Zetti, mas Ivan também guardou. Llop empatou, e o placar permaneceu assim, pois Ronaldão errou. Então Mendoza retribuiu o favor e bateu por cima. Cafu pôs o São Paulo na frente, 3×2.
A última cobrança foi de Gamboa. E Zetti foi magistral. Saltou para a esquerda e, de mão trocada, espalmou a bola para fora. Tudo decidido! O São Paulo é Campeão da Copa Libertadores da América!
17.06.1992 – São Paulo (Brasil)
Estádio Cícero Pompeu de Toledo, Morumbi
SÃO PAULO Futebol Clube 1 x 0 Club Atlético NEWELL’S OLD BOYS
Nos pênaltis: 3 x 2 para o São Paulo
SPFC: Zetti, Cafu, Antônio Carlos, Ronaldão e Ivan; Adílson, Pintado e Raí (capitão); Müller (Macedo), Palhinha e Elivélton.
Técnico: Telê Santana.
Gol: Raí (pênalti), 21’/2
CANOB: Scoponi, Saldaña, Gamboa (capitão), Pocchettino e Berizzo; Llop, Berti e Martino (Domizzi); Zamora, Lunari e Mendoza.
Técnico: Marcelo Bielsa.
Árbitro: José Joaquín Torres Cadenas (Colômbia)
Assistente 1: Jorge Zuluaga (Colômbia)
Assistente 2: John Redón (Colômbia)
Renda: Cr$ 1.072.490.000,00
Público: 105.185 pagantes
Pênaltis: