Uma história de respeito (ao São Paulo)

Uma história de respeito (ao São Paulo)

Calendário 12/01/2016 - 12:38

O Nacional do Uruguai acabara de vencer o Liverpool local pelo
“Apertura 2003” por 1 a 0. Ao sair de campo, um jovem zagueiro foi
questionado por um repórter de Montevidéu se o jogador estaria
realmente se transferindo para o “San Pablo, de Brasil”. Diego
Alfredo Lugano Moreno, àquela altura, nada sabia sobre essa
negociação. Na manhã do dia seguinte, segunda-feira, um dirigente
do clube cisplatino levou a conhecimento do defensor a proposta do
Tricolor e perguntou se Lugano estaria disposto a enfrentar esse
desafio.

Lugano, que tinha como ídolo pessoal Darío Pereyra, cuja
história no clube do Morumbi é notória, consultou a opinião de
outro grande expoente são-paulino sobre essa jornada: Pedro Rocha.
Obviamente bem avalizado e encaminhado, na terça-feira seguinte
Diego já estava no Brasil para assinar contrato com o Tricolor.

O zagueiro uruguaio foi apresentado à imprensa e aos torcedores
em 16 de abril de 2003 (quarta-feira, todo o processo de negociação
foi definido em três dias). A contratação, por 645 mil reais, fez
parte de um pacote que contou ainda com Carlos Alberto (volante do
Botafogo), Souza (meio-campista), Rico (atacante), Adriano Ferreira
(meio-campista), os três provenientes da Portuguesa Santista, e
Flávio Kretzer (goleiro do Avaí).

“Jogador do Presidente”. Com essa alcunha, Lugano foi batizado
pelos veículos de mídia brasileiros nos primeiros dias no Brasil,
pois o treinador do São Paulo, na época (Oswaldo Oliveira), não
havia tomado parte no processo de contratação do atleta. Talvez
justamente por isso, Lugano não teve chances na equipe principal
com o técnico. Somente após Roberto Rojas assumir o comando do
time, a princípio interinamente e posteriormente efetivamente, é
que Diego assumiu um posto titular no Tricolor.

Apesar de tudo (o uruguaio também cometeu falhas em seu jogo de
estreia), o começo da história de Lugano no clube foi bem-sucedido.
Nos 10 primeiros jogos, seis vitórias e quatro empates, saindo-se
invicto!  

Ao final da temporada de 2003, Lugano já chamava atenção. A
primeira entrevista do zagueiro à Revista do São Paulo foi
publicada de novembro daquele ano, sob o título: “Uruguaio sangue
bom: Diego Lugano faz cara de bravo quando está em campo, mas fora
esbanja simpatia”.

Talvez essa característica seja um dos motivos que levaram a
torcida são-paulina a apoiar e a idolatrar tão facilmente o
jogador, que dava o seu sangue em campo – literalmente, e que não
se deixava intimidar por ninguém, contagiando todos os atletas do
grupo. Impunha respeito.

E esta moral imposta não significava que o jogador se fazia
valer de violência. Como todo uruguaio, Lugano joga um futebol
sério, ríspido, mas longe de ser desonesto e maldoso. As
estatísticas provam. O zagueiro somente foi expulso quatro vezes em
sua primeira passagem pelo Tricolor (Rogério Pinheiro, Jean e
Wilson, outros zagueiros do período, acumularam o dobro de cartões
vermelhos).

Mas o respeito adquirido com a torcida veio também pela notável
melhoria da defesa são-paulina. Os números provam: Em 2002, a média
de gols sofridos pelo Tricolor era superior a um e meio por jogo.
Em 2004, quando titular absoluto, a taxa caiu para menos de um por
jogo (0,89). Dos 176 jogos pelo clube, 53 jogos a defesa integrada
por Lugano não sofreu gol algum. No Morumbi, foram 82 partidas, das
quais em 31 delas a meta são-paulina não fora vazada. E o
desempenho poderia ser ainda melhor, não fosse o período de
“ressaca” do elenco tricolor após a conquista da Copa Libertadores
de 2005.

Ademais, Lugano é ídolo pois é ícone da vitória – como bem devem
lembrar Bautista e Gerrard. Com quatro títulos em quatro anos
percorridos no São Paulo, o zagueiro uruguaio é o símbolo imediato
associado ao sucesso contra rivais – algo obviamente muito bem
quisto pelos torcedores – Diego Lugano nunca perdeu para o
Palmeiras (seis vitórias, dois empates) nem para o Corinthians
(três vitórias, um empate).

Por essas e outras, e muitas mais por vir, que Diego Lugano é
tratado por são-paulinos como DIO5.

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