Há quem diga que tamanho é documento, que futebol é coisa para homem e que menina é só “café com leite”. Quase toda mulher que cresceu com gosto pelo esporte já ouviu alguma dessas frases ao longo da vida. Thaís Regina também ouviu quando era criança. Mas, hoje, a zagueira – que chegou no início do ano para compor o time feminino profissional do São Paulo Futebol Clube – refuta todas essas afirmações quando calça a chuteira e entra em campo.
Quem vê Thaís no gramado não repara que ela tem apenas cinquenta e cinco quilos distribuídos em um metro e sessenta e três de altura. Em cada bola que ela divide, seja por baixo ou pelo alto, se impõe de tal maneira que ninguém desconfia do seu tamanho. Só que nem sempre foi assim.
Antes de vestir a camisa número quatro do Tricolor, quando ainda crescia no nordeste brasileiro, ela decidiu que queria ser jogadora de futebol e nem imaginava o tamanho que poderia alcançar. Por influência do irmão mais velho, Thaís, que ia aos jogos só para assistir, falou para o pai que queria ser jogadora de futebol também. Não encontrou resistência na família, mas aprendeu cedo que se era isso que queria ia ter que ser maior que qualquer menino do bairro.
“Meu pai me perguntou se era isso mesmo e eu disse que sim. Ele começou a me colocar para jogar com os meninos. Ele falava pra eles chegarem forte, sem dó. Teve um jogo que eu saí com a perna inteira roxa”, conta relembrando o passado.
No meio deles, sempre mais velhos, aprendeu a usar o corpo para ganhar cada jogada. Passou a ganhar divididas, entendeu que se não podia ganhar na estatura tinha que ser na imposição e inteligência. E se transformou na Thaís que se vê hoje. Firme, segura, forte e veloz – uma das características que ela destaca como um diferencial na posição.
Competitiva e determinada, como se define, Thaís não iniciou a carreira na zaga. Alternava entre lateral-direita e volante. Assim, a pernambucana cresceu na base do Sport. Mas foi na Seleção Brasileira que ela descobriu a posição que a faria crescer ainda mais. Com passagens pelas categorias sub-15, 17 e 20, foi na segunda convocação da carreira que se surpreendeu com a nome na lista de zagueiras chamadas por Emily Lima e passou a atuar como defensora.
Na carreira ainda teve passagens pelo Iranduba e 3B da Amazônia, Corinthians-RN e Vitória de Tabocas, antes de retornar ao clube formador no ano passado e receber a proposta que fez seu coração bater mais forte.
“Quando eu recebi o convite do treinador, Lucas Piccinato, falando sobre o projeto do São Paulo e dizendo que queira contar comigo, fiquei muito feliz, porque seria a realização de um sonho de jogar pelo time que eu torço. Meu time do coração. Quando pisei no Morumbi pela primeira vez, me dei conta que a ficha ainda não tinha caído”, conta a zagueira.
Desde que Thaís Regina chegou ao Tricolor já se foram quase cinco meses. No Brasileiro, o São Paulo, já classificado para as quartas de final, conta com uma das defesas menos vazadas do campeonato, assim como no Paulista, onde a equipe tem vaga garantida na próxima fase com duas rodadas de antecedência. Os números apenas confirmam o que todo mundo já pode ver em campo.
Mas se por acaso ainda insistirem que o tamanho determina quem pode ou não atuar na primeira linha, que o gênero define quem pode ou não jogar, ou que menina é só “café com leite”, avisa que no São Paulo Futebol Clube existe uma gigante que está sempre pronta para entrar em campo e provar o contrário.