São Paulo trocará nomes nas camisas em respeito e homenagem a Consciência Negra

São Paulo trocará nomes nas camisas em respeito e homenagem a Consciência Negra

Calendário 22/11/2020 - 13:49

Na partida deste domingo (22), contra o Vasco da Gama, os atletas do São Paulo FC entrarão com uma pequena alteração em suas camisas de jogo. Os nomes dos atletas estampados nos uniformes serão substituídos pelos de personalidades negras brasileiras – entre homens e mulheres – que marcaram época em suas áreas de atuação. 

A iniciativa faz parte das homenagens do clube à semana da Consciência Negra. O São Paulo FC condena o racismo em todas as suas formas de manifestação. O futebol também precisa ser antirracista. A lista de homenageados inclui de pioneiros na luta por direitos civis e igualdade, como Esperança Garcia e José do Patrocínio, a artistas desbravadores e icônicos, como Elza Soares e Grande Otelo. 

Seguem abaixo os perfis dos homenageados pelos atletas na partida de hoje:

 

#1 GRANDE OTELO (1915-1993)

Sebastião Bernardes de Souza Prata, que ficou conhecido como Grande Otelo, nasceu em Uberlândia-MG em 18 de outubro de 1915 e foi um dos atores brasileiros mais talentosos do século 20. Teve uma vida marcada por tragédias. Além das dificuldades de ser um homem negro crescendo em um Brasil que havia recém-abolido a escravatura, Otelo foi filho de uma mãe alcoólatra e de um pai que morreu esfaqueado quando ele tinha apenas 6 anos. 

Atuando no cinema da época, no teatro e na TV, Grande Otelo foi uma das grandes figuras representativas das artes negras no Brasil. Seu sucesso foi extremamente importante para abrir portas para outros artistas negros conquistarem espaço e reconhecimento no país. Na década de 1920, iniciou sua carreira na Companhia Negra de Revistas, grupo formado apenas por artistas negros. Além de atuar, Otelo também foi cantor e escritor. 

Foi o primeiro negro a se apresentar no Cassino da Urca – uma das principais casas de show do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX. Até sua contratação para tocar em apresentações no Cassino, negros eram proibidos de entrar pela porta da frente do estabelecimento.

 

#2 LIMA BARRETO (1881-1922)

Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto, nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881 e foi um jornalista e escritor brasileiro. Neto de ex-escravos e de portugueses, Barreto é um representante da miscigenação étnica e cultural presente na construção da sociedade brasileira.

Barreto, como diversos artistas e autores negros da época, não viveu para ver sua obra amplamente reconhecida.  Boa parte de seu trabalho só veio a ser descoberto e reconhecido após sua morte, aos 41 anos, em 1922. Sua obra é marcada por profundas críticas à hipocrisia da elite brasileira da época, às desigualdades sociais e ao racismo. É autor de “Triste fim de Policarpo Quaresma” (1915) e de “Clara dos Anjos” (1922), além de diversas outras obras.

Como escritor e jornalista, se dedicou a denunciar as injustiças da sociedade brasileira da época, escancarando, por exemplo, sobre como apesar da proibição da escravidão, com a Lei Áurea de 1888, a sociedade na prática havia mantido o predomínio e os poderes das mesmas famílias e forças sociais que predominavam no século anterior (XIX).

 

#3 MILTON SANTOS (1926 – 2001)

Milton Almeida dos Santos, mais conhecido como Milton Santos, nasceu em Brotas de Macaúbas, na Bahia, em 03 de maio de 1926 e foi um importante geógrafo, escritor, jornalista, advogado e professor brasileiro (começou a dar aulas de matemática com apenas 13 anos de idade). 

Advogado formado pela Universidade Federal da Bahia, Santos teve acesso à uma formação acadêmica de qualidade – um privilégio ainda mais raro para a população negra no século passado do que hoje em dia. Militante político pela educação e no combate às desigualdades sociais, foi preso pelo regime militar brasileiro após o golpe militar de 1964.

Deixa importante legado enquanto negro que ocupou espaços onde predominavam pessoas brancas em um Brasil ainda mais racista do que o atual. Milton sempre se indignou com as desigualdades sociais e com o racismo. “Ser negro no Brasil é, pois, com frequência, ser objeto de um olhar enviesado. A chamada “boa sociedade” parece considerar que há um lugar predeterminado, lá embaixo, para os negros e assim tranquilamente se comporta”, escreveu ele.

 

#4 ANDRÉ REBOUÇAS (1838 – 1898)

André Pinto Rebouças nasceu em Cachoeira-BA, em 13 de janeiro de 1838, e foi um engenheiro e ativista brasileiro. Neto de uma ex-escrava e de um alfaiate português, a origem de Rebouças ilustra a miscigenação étnica e cultural presente na construção da sociedade brasileira. 

Seu pai foi um advogado conselheiro do Imperador Dom Pedro II, o que permitiu que André tivesse acesso a diversas oportunidades raras para negros no Brasil do século 18. Se formou em engenharia e serviu como engenheiro militar na Guerra do Paraguai. Foi responsável, também, por projetar a estrada de ferro que liga Curitiba ao litoral do Paraná, ainda nos tempos do Brasil Império. 

Rebouças foi um importante abolicionista, usando sua influência e poder para combater a  escravidão no Brasil. Foi um dos fundadores da “Sociedade Brasileira Contra a Escravidão”, que lutava pelo fim da prática da escravatura no país.

 

#5 SÔNIA GUIMARÃES (1957 – )

Sonia Guimarães nasceu em Brotas-SP, no dia 26 de junho de 1957, e é uma importante física e professora brasileira. Sua história foi marcada por quebrar barreiras. Durante toda a sua vida, Sônia sempre estudou em escolas públicas e foi a primeira da família a ingressar no Ensino Superior. Foi aprovada em física na Universidade Federal de São Carlos, uma das únicas mulheres na turma.

Guimarães seguiu na área acadêmica. Fez mestrado e, ao terminar seu doutorado, tornou-se a primeira mulher negra doutora em física do Brasil. Em 1993, ingressou como docente no ITA, uma realização impressionante. No entanto, nunca deixou de lutar pela igualdade racial no ambiente acadêmico. Sônia participa ativamente dessa busca, sendo uma conselheira do Conselho Municipal Para a Promoção de Igualdade Racial de São José dos Campos.

A história de Sônia não demonstra somente seu brilhantismo na física. Ela mostra a trajetória de uma mulher batalhadora que não se acomodou. Mesmo já sendo aplaudida e reconhecida, Guimarães nunca se esqueceu da luta coletiva por liberdade e emancipação.

 

#6 JOSÉ DO PATROCÍNIO (1853-1905)

José Carlos do Patrocínio, mais conhecido como Zé do Patrocínio, nasceu em 09 de outubro de 1953 e foi um farmacêutico, jornalista, escritor e ativista político brasileiro. Filho do vigário de uma paróquia com uma jovem escrava, José cresceu na fazenda de seu pai, liberto, mas convivendo de perto com a realidade dos escravos que lá trabalhavam. 

Depois de se formar em Farmácia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, passou a se envolver mais fortemente com o ativismo político. Foi um dos fundadores da “Sociedade Brasileira Contra a Escravidão” e da “Confederação Abolicionista”, congregando diversos movimentos pela libertação dos escravos no país. Idealizou, também, a “Guarda Negra Redentora”, grupo de ex-escravos que lutavam para proteger a liberdade dos negros recém-alforriados, bem como a integridade da princesa Isabel, responsável pela Lei Áurea de 1888, que garantiu a tardia libertação dos escravos brasileiros. 

Como jornalista, no extinto jornal carioca Gazeta de Notícias, fez denúncias contra o movimento escravagista e campanha pela abolição. É reconhecido como uma das figuras mais importantes do movimento abolicionista brasileiro.

 

#8 FRANCISCO JOSÉ DO NASCIMENTO (1839-1914)

Francisco José do Nascimento nasceu em Canoa Quebrada-CE, que também ficou conhecido pelo apelido de “Dragão do Mar”, foi um marinheiro e ativista político brasileiro. Filho de pescadores cearenses, teve participação fundamental no movimento abolicionista (contrário à escravidão) no Ceará, a primeira província brasileira a abolir a escravatura.

Liderou um movimento de jangadeiros cearenses que bloquearam o Porto de Fortaleza, se recusando a transportar escravos aos navios negreiros que, à época, levariam-nos para serem vendidos pela elite escravista cearense aos proprietários de terra do sul/sudeste do país, em especial de São Paulo e Minas Gerais. “Do Ceará não sai mais carne humana”, teriam ecoado os jangadeiros durante o protesto. 

O ato consolidou Francisco como uma das mais emblemáticas lideranças abolicionistas do país e sua coragem lhe rendeu o apelido de “Dragão do Mar”.

 

#9 ANTONIETA DE BARROS (1901-1952)

Antonieta de Barros nasceu no dia 11 de julho de 1901, em Florianópolis-SC, e foi uma jornalista, professora e ativista política brasileira. Filha de ex-escravos, ela entrou na Escola Normal com 17 anos, formando-se anos depois como professora de português. Sua história foi marcada pela luta pela educação para todos. 

Em 1921, fundou o Curso Particular Antonieta de Barros voltado para a alfabetização das periferias. Também atuou escrevendo nos grandes jornais da cidade. Mais tarde, Antonieta entrou para a política, visando defender a educação, a cultura negra e a emancipação feminina. Em 1934, elegeu-se a primeira deputada estadual negra do país e a primeira deputada mulher do estado de Santa Catarina, um marco histórico. Ela quebrou barreiras e lutou por aquilo que acreditava.

Antonieta é um dos maiores exemplos de busca por uma política diversa e representativa. Sua luta por uma educação democrática foi essencial para o Brasil. A professora, jornalista e política deixou um legado imenso, inspirando a luta racial e feminina.

 

#10 ADHEMAR FERREIRA DA SILVA (1927-2001)

Adhemar Ferreira da Silva nasceu em São Paulo-SP, em 29 de setembro de 1927, foi um atleta brasileiro. Recordista mundial (1952 e 1955) e olímpico (1952) do salto triplo e responsável pelas duas estrelas douradas da camisa e da bandeira do Tricolor, Adhemar Ferreira da Silva foi inúmeras vezes campeão e recordista sul-americano, pan-americano, brasileiro e paulista.

Em 1950, ele igualou o recorde mundial do japonês Naoto Tajima (16 metros). Depois o superou por quatro vezes em um mesmo dia, 23 de julho de 1952, nas Olimpíadas de Helsinque. Em suas quatro tentativas, quatro recordes, saltando 16,04m, 16,09m, 16,12m e finalmente 16,22 metros. Em 1955, nos Jogos Pan-americanos da Cidade do México, novamente bateu o recorde mundial ao atingir a marca de 16,56 metros. Já no Vasco da Gama, em 1956, conquistou novamente uma medalha de ouro nas Olimpíadas, agora saltando 16,35 metros.

Além de esportista exímio, Adhemar também foi uma figura de extremo apreço pela cultura e educação. Uma de suas paixões era a linguística. É relatado que ele falava inglês, francês, japonês, finlandês e italiano.

 

#11 MACHADO DE ASSIS (1839-1908)

Joaquim Maria Machado de Assim, mais conhecido como Machado de Assis, nasceu em 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Filho de um mulato pintor de paredes e de uma imigrante portuguesa que trabalhava como lavadeira, Machado se tornou um dos principais escritores brasileiros de todos os tempos.

Em várias de suas obras, se dedicou a traçar profundas críticas sociais, abordando com ironia e inteligência a hipocrisia das elites, a questão da sociedade pré e pós abolição da escravatura, as desigualdades sociais e diversas outras questões que caracterizavam a sociedade brasileira de sua época. 

Foi um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Dá nome, hoje, ao principal prêmio da literatura brasileira, o Prêmio Machado de Assis. Era comum, no passado, que algumas editoras de livros “embranquecessem” a pele do autor nas capas de suas obras.

 

#12 CAROLINA MARIA DE JESUS (1914-1977)

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento-MG, em 14 de março de 1914, e foi uma importante escritora e poetisa brasileira. É mais conhecida pelo seu primeiro livro publicado, “Quarto de Despejo”, narrando suas vivências na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, onde construiu sua própria casa, usando madeira, lata e papelão e outros materiais encontrados na rua. Carolina trabalhava como catadora e, nas horas vagas, registrava seu dia-a-dia em cadernos e livretos encontrados enquanto recolhia papel pela cidade. 

Carolina Maria de Jesus, infelizmente, não viveu para ver sua obra devidamente reconhecida. Faleceu aos 62 anos. O livro “Quarto de Despejo”, hoje, já foi traduzido para dezenas de línguas e vendeu centenas de milhares de exemplares. Carolina e seus nove livros publicados se tornaram símbolos do retrato e crítica às injustiças sociais no Brasil. 

Foi uma das principais escritoras brasileiras de sua época a retratar a violência contra a mulher negra e à população marginalizada. Inconformada com a miséria e com a desigualdade, Carolina escreve em um de seus livros: “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo e nas crianças”.

 

#13 TEODORO SAMPAIO (1855-1937)

Teodoro Fernandes Sampaio, mais conhecido como Teodoro Sampaio, foi um engenheiro, escritor e historiador brasileiro nascido em Santo Amaro da Purificação-BA, em um Engenho. Filho de uma escrava e de um padre, foi levado pelo pai para o Rio de Janeiro, onde teve acesso à uma formação e uma educação de qualidade, algo ainda mais raro para jovens negros, à época, do que é nos dias de hoje. 

Quando Sampaio se formou engenheiro, em 1877, a escravidão ainda não havia sido abolida no Brasil. Após sua formatura, voltou à Bahia para comprar a libertação de sua mãe e de seus dois irmãos, que ainda eram escravos, com o dinheiro que havia juntado em São Paulo dando aulas de matemática, filosofia, história e geografia, dentre outras disciplinas.

Teodoro Sampaio foi um dos maiores engenheiros e pensadores brasileiros de seu tempo. Foi, também, um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e atuou como Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Deixa um importante legado enquanto personalidade negra que ocupou espaços predominantemente ocupados por brancos em um Brasil ainda mais desigual e racista do queo atual.

 

#15 PIXINGUINHA (1897-1973)

Alfredo da Rocha Vianna Filho, mais conhecido como Pixinguinha, nasceu em 04 de maio de 1897 na cidade do Rio de Janeiro-RJ, e foi um importante músico brasileiro, atuando como maestro, flautista, saxofonista, compositor e arranjador. É considerado um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira (MPB) e o pai do “Choro” (gênero musical).

Em 1918, formou sua própria orquestra, com um grupo chamado “Os Oito Batutas”, onde atuava como flautista. Na década de 1920, fez parte da Companhia Brasileira de Revistas, da qual só participavam artistas negros. Depois, Pixinguinha integrou o grupo Caxangá, junto dos músicos Donga e João Pernambuco. Seu arranjo mais conhecido é “Carinhoso”, composto por Orlando Silva.

Além de grande instrumentista e compositor, Pixinguinha é responsável por importantes transformações estéticas na música popular brasileira Ele esteve em importantes momentos, como a produção em massa de discos e o surgimento do rádio no Brasil. Pesquisador assíduo, experimentador e inovador, agregou elementos do jazz americano às influências africanas nas novas formas e estruturas musicais que incorporava com grande criatividade e sensibilidade.

 

#16 ELZA SOARES (1930-)

Elza Gomes da Conceição, mais conhecida como Elza Soares, nasceu em 23 de junho de 1930 e cresceu na favela da Água Santa, no Rio de Janeiro, e é uma das mais importantes artistas brasileiras da atualidade. Sua trajetória de Elza Soares é também representativa da vida de muitas mulheres negras brasileiras, marcada pela miséria e violência. 

Forçada pela família, casou-se com apenas 12 anos. Tornou-se mãe aos 13. O amadurecimento precoce e a pobreza marcaram uma vida repleta de violências. No entanto, ainda aos 13, Elza participou daquilo que daria indício de uma oportunidade de mudança de vida. Em 1953, já viúva, com quatro filhos pequenos para cuidar e na tentativa de conseguir dinheiro para cuidar de seu filho doente, foi participar do programa “Calouros em Desfile” da Rádio Tupi. Ao cantar pela primeira vez para um público, ela deixou o apresentador Ary Barroso de queixo caído.

Sua carreira não decolou rapidamente. A artista ainda teve um longo e árduo caminho para percorrer, perdendo dois de seus filhos por conta da desnutrição. Porém, na década de 60, Elza Soares participou de outro concurso musical, vencendo novamente. A cantora ganhou um contrato fixo para se apresentar, passando a viver da música. Em 1999, foi eleita pela revista BBC como a cantora brasileira do milênio.

 

#17 TIA CIATA (1854-1924)

Hilária Batista de Almeida, mais conhecida como Tia Ciata, nasceu em 1854, em Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Mais tarde, foi iniciada no candomblé e se tornou mãe de santo. Assim nasceu Ciata de Oxum. Aos 22 anos, mudou-se para o Rio de janeiro, visando melhor qualidade de vida. Sua presença, junto com toda a sua bagagem cultural e histórica, foi essencial para a consolidação do candomblé e da cultura popular baiana na metrópole. 

Dessa forma, Tia Ciata se construiu como símbolo da resistência negra após a escravidão. Foi em sua casa que “Pelo Telefone”, considerado o primeiro samba brasileiro a ser gravado e registrado, foi composto por Donga e Mauro de Almeida nos anos 1910. Sua residência na Praça Onze se tornou um ponto de encontro famoso na cidade. Lá, grandes compositores musicais do Rio, como Pixinguinha, Heitor dos Prazeres e Sinhô tocaram e cresceram.

A história tenta apagar seu nome e seus feitos, mas sem Tia Ciata, o samba da forma que vemos hoje não existiria. Na época, o samba era entendido e até mesmo criminalizado como coisa de “vagabundo”. No entanto, sua força e acolhimento permitiram não somente vida longa à música, como também a resistência social e cultural do povo negro. Ela é a grande matriarca do ritmo no Brasil.

 

#19 ENEDINA ALVES MARQUES (1913-1981)

Enedina Alves Marques nasceu em Curitiba-PR no dia 13 de janeiro de 1913 e foi uma importante engenheira brasileira. Foi a primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil, curso em que até hoje mulheres e negros são minoria.

Trabalhou na Secretaria de Viação e Obras Públicas, do Paraná. Ocupou diversas posições de liderança, também no Paraná, na Secretaria de Educação e Cultura do Estado. 

Enedina deixa um importante legado para a engenharia do Paraná e do Brasil, bem como para a população negra brasileira, enquanto mulher negra que ocupou em sua trajetória diversos espaços amplamente dominados por homens brancos.

 

#20 MELÂNIA LUZ (1928-2016)

Melânia Luz nasceu em São Paulo no dia 01 de junho de 1928 e foi a primeira atleta negra brasileira a participar dos Jogos Olímpicos, em 1948, representando o Tricolor. Corredora de provas de velocidade, também praticava o salto em altura. 

Melânia foi campeã sul-americana no revezamento 4×100 metros e medalhista de prata nos 200 metros rasos em 1949. No Troféu Brasil de Atletismo, de 1946, ela foi campeã dos 200m e ficou em segundo nos 100m. E pela Seleção Paulista obteve quatro títulos no revezamento 4x100m de 1946 a 1953.

Foi uma verdadeira atleta durante toda sua vida, participando de torneios seniores até depois dos 70 anos, sempre demonstrando uma imensa paixão pelo São Paulo FC. Apesar da importância para o atletismo brasileiro, seu falecimento, em 2016, sequer foi divulgado à época. 

 

#21 ZUMBI DOS PALMARES (1665-1695)

Zumbi, mais conhecido como Zumbi dos Palmares, nasceu na Serra da Barriga, hoje parte do território de Alagoas, e à sua época parte da Capitania de Pernambuco. Foi o mais conhecido líder quilombola brasileiro e o último líder do Quilombo dos Palmares, principal quilombo do país no período colonial.

O Quilombo dos Palmares era uma comunidade livre que abrigava escravos fugitivos em Alagoas e batalhava contra expedições de capitães escravagistas que tentavam apreender, punir e reescravizar fugitivos. O Quilombo dos Palmares foi o maior das Américas, abrigando mais de 20 mil habitantes.

Zumbi foi o líder e defendeu o Quilombo por 18 anos, até que, após ser traído por um companheiro, foi capturado e decapitado. Sua cabeça foi exposta em praça pública pelo Governo de Pernambuco. O dia de seu assassinato, 20 de novembro, marca a data em que hoje é comemorado o Dia da Consciência Negra. 

 

#25 JAQUELINE GÓES DE JESUS (1990-)

Jaqueline Góes de Jesus nasceu em Salvador-BA, em 1990, e é uma pesquisadora e biomédica brasileira. Formou-se em Biomedicina pela Escola Baiana de Medicina de Saúde Pública. É mestre em Biotecnologia pelo Instituto de Pesquisas Gonçalo Moniz, da FIOCRUZ, e doutora em Patologia Humana pela Universidade Federal da Bahia.

Ficou mais conhecida em 2020 por ser uma das coordenadoras da equipe de pesquisadores que realizou o primeiro sequenciamento do genoma do coronavírus que circulava pela América Latina, em apenas 48h após a confirmação do primeiro caso de covid-19 no Brasil. 

Se notabilizou recentemente, assim, como uma importante figura negra no campo da ciência no Brasil, também um segmento da sociedade brasileira em que negros ocupam expressivamente menos espaço do que brancos.

 

#26 LUIZ GAMA (1830-1882)

Luiz Gonzaga Pinto da Gama, mais conhecido como Luiz Gama, nasceu no dia 21 de junho de 1830, em Salvador-BA, e foi um ativista político, jornalista e escritor brasileiro. É um dos poucos reconhecidos intelectuais negros do Brasil no século XIX, quando a escravidão ainda era legal no país. Nasceu livre, filho de pai branco e mãe negra, mas foi escravizado aos 10 anos de idade, vendido pelo próprio pai. 

Não se formou advogado, mas estudou sozinho e exerceu a advocacia, especialmente buscando a libertação de pessoas negras escravizadas, depois de conquistar judicialmente sua própria liberdade. 133 anos após sua morte, em 2015, quando a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, atribuiu oficialmente à sua figura o título de “advogado”.

Apesar de ter passado praticamente toda sua existência lutando pelo fim da monarquia e da escravidão, Luiz Gama faleceu em 1882, seis anos antes de ver ambos seus objetivos de vida se concretizarem. Isso não o impede de ser amplamente reconhecido nos dias de hoje como uma das principais figuras do movimento abolicionista brasileiro, se não a principal.

 

#30 ESPERANÇA GARCIA (1751-?)

Esperança Garcia nasceu em 1751, na cidade de Oeiras, atualmente no estado do Piauí. Aos 19 anos, Esperança, mulher escravizada, realizou um grande feito, fazendo história. Ela escreveu uma carta ao então governador da Capitania de São José do Piauí, denunciando as violências sofridas por ela e seu filho. No documento, Esperança reivindicava liberdade e o direito à própria vida, para ela e todos aqueles que com ela viviam.

Essa carta, uma petição, é o documento mais antigo de reivindicação de uma negra escravizada a uma autoridade no país. É também o primeiro documento brasileiro a ser assinado por uma mulher. Hoje, Esperança é oficialmente reconhecida como a primeira advogada brasileira. Em 2017, a Ordem dos Advogados do Brasil do Piauí atribuiu o título de advogada a Esperança. 

No dia 06 de setembro, foi instituído o Dia Estadual da Consciência Negra, no Piauí – data em que a carta foi redigida. Esperança Garcia foi uma mulher que resistiu aos poderes escravocratas e racistas de sua época. Sua luta e bravura jamais podem ser esquecidas. 

 

#32 TEREZA DE BENGUELA (? – 1770)

Tereza de Benguela foi uma das grandes líderes quilombolas do Brasil, participando ativamente na luta e resistência do povo negro no país. Tereza viveu durante o século 18, mas seu local de nascimento é desconhecido. 

Com a morte de seu marido José Piolho, líder do Quilombo do Quariterê, Tereza assumiu a posição de liderança, e, sob seu comando, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por décadas. Tereza foi a responsável por toda a organização política, econômica e militar do quilombo, garantindo a sua vitalidade até 1770.

No dia 25 de julho, dia de seu nascimento, comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha. Sua coragem, bravura e liderança serão sempre lembradas. Sua luta por liberdade não pode cair no esquecimento.

 

#40 DANDARA DOS PALMARES (? – 1694)

Dandara dos Palmares é talvez uma das figuras históricas femininas mais conhecidas no Brasil, embora não se tenha muitos dados a respeito da sua vida. A guerreira lutou contra a escravidão em Palmares, o maior quilombo brasileiro durante o período escravocrata. ⠀⠀⠀⠀⠀

Muitos tentam reduzi-la à esposa de Zumbi, a liderança negra mais citada quando falamos do período escravista brasileiro. No entanto, Dandara lutou com armas pela defesa do quilombo e pela libertação total dos negros, sempre na liderança, assim como o marido. Também foi essencial na elaboração das estratégias de resistência do quilombo. Dessa forma, Dandara contribuiu ativamente para construção de Palmares e seu eterno legado. 

Dandara resistiu à escravidão até o último de seus dias. Relatos históricos afirmam que sua vida teve fim em 1694, em um ato de máxima resistência. Após uma batalha com as forças militares, Dandara teria se jogado de uma pedreira para não se entregar. Em 2019, com a lei nº 13.816, a guerreira foi considerada oficialmente uma Heroína da Pátria. 

 

#41 MARIA FIRMINA DOS REIS (1822-1917)

Maria Firmina dos Reis nasceu no dia 11 de março de 1822 em São Luís-MA e foi uma importante escritora e professora brasileira. Era filha de uma escrava alforriada e de um homem rico da região. Sua vida foi marcada por pioneirismos. Maria foi a primeira mulher a passar em um concurso público como professora no Estado, e também a primeira a fundar uma escola mista, anos depois. 

Ao invés de se submeter ao controle escravocrata, Maria Firmina lutou e conseguiu se sustentar sozinha, com seu próprio salário. Suas conquistas foram reconhecidas e a fizeram a pioneira na literatura abolicionista. Em sua primeira obra, o livro “Úrsula”, publicada no jornal em 1860, Maria Firmina denunciou as violências da escravidão e colocou o povo negro como foco narrativo, liberando sua voz. Sua potência crítica foi inovadora.⠀

Mesmo sendo revolucionária, seu trabalho foi esquecido e só foi redescoberto muito depois, na década de 60. Ao usar o romance como forma de denúncia, Maria Firmina se consagrou como um dos maiores nomes da literatura brasileira. Em sua homenagem, no dia 11 de março, seu aniversário, é comemorado o Dia da Mulher Maranhense em todo o Estado do Maranhão.

Compartilhe esse conteúdo

Deixe seu comentário