No dia 29 de junho de 1997, o Estádio Ícaro de Castro Mello, no Ibirapuera, recebeu a segunda partida das finais do primeiro Campeonato Paulista de Futebol Feminino organizado pela FPF: o Paulistana 1997. Em campo, São Paulo e Santos disputaram o título e o Tricolor, de Sissi, Kátia Cilene e companhia, levou a melhor! 4 a 1!
Relembre como foi a primeira conquista oficial das mulheres são-paulinas!
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Um pouco de história
A trajetória do São Paulo Futebol Clube com o futebol feminino é antiga, embora comece de forma indireta. Ainda assim é pioneira, como manda a tradição no Tricolor. Conforme apontado por Thomaz Mazzoni (comentarista esportivo), em 1940, em uma preliminar do amistoso São Paulo e Flamengo, entraram no campo do Pacaembu as equipes femininas do Brasileiro e do Cassino Realengo, ambas do Rio de Janeiro.
Em outra obra sobre o futebol, José Witter (Breve História do Futebol Brasileiro) também ressalta o vanguardismo do Tricolor: “Cercado de preconceitos, o esporte não chegou a se firmar entre as mulheres, mas a partir de 1981 formaram-se várias equipes femininas em clubes como São Paulo, Guarani, América e outros”
De fato, foi nos anos 80 que equipes femininas despontaram. Do São Paulo restaram alguns poucos registros, como a participação do clube na Taça São Paulo de 1983, da Secretaria Municipal de Esportes (em que terminou na 3ª colocação).
O cenário começou a mudar quando o mundo despertou para o futebol feminino. Em 1991, foi organizada pela FIFA a primeira Copa do Mundo da categoria. Cinco anos depois, o evento passou a fazer partes dos Jogos Olímpicos e o Brasil esteve presente desde o início em ambas. Por esta “demanda”, CBF e FPF começaram a organizar oficialmente campeonatos. Em 1997, surgiu o Paulistana, o primeiro torneio feminino com transmissão ampla por rede de televisão. Neste ponto, começa a história grandiosa do Tricolor nessa modalidade.
A temporada
O primeiro elenco dessa nova era do futebol feminino no São Paulo foi praticamente importado da prestigiosa equipe do Saad, de São Caetano do Sul, que em sua época já era a base da Seleção Brasileira. Sissi e Kátia Cilene, eram as principais jogadoras do time.
Sissi – A primeira grande jogadora de futebol brasileira. Carregou a seleção nas costas nas Copas do Mundo de 1995 e 1999 (3º lugar em ambas, e artilheira da última) e nos Jogos Olímpicos de 1996 e 2000. Sissi atuou no São Paulo em um período de vacas magras da equipe masculina. Assim, com o maior expoente do futebol de sua época, a torcida gritava por seu nome, meio como homenagem à atleta, meio como crítica ao time dos homens.
Kátia Cilene – Alta e veloz. Praticamente um Chulapa, não somente por esses atributos, mas principalmente pelo seu faro de gol. Artilheira-nata: só em 1997, sua melhor temporada, marcou 57 gols em 27 jogos. Estima-se que tenha feito mais de 200 gols em sua passagem pelo clube.
Nesse primeiro ano foram realizados 32 jogos, dos quais o Tricolor empatou somente dois e perdeu outros dois, com 199 gols marcados e somente 22 sofridos. A maior goleada foi contra o Ativa, de Campo Grande, pelo torneio local: 21 a 0. O São Paulo venceu todos os quatro campeonatos que disputou nesse ano: Torneio de Campo Grande, Campeonato Paulista, Torneio da Primavera e o Campeonato Brasileiro – esse, por sinal, conquistado com 100% de aproveitamento.
Paulistana 1997
Após vencer também a competição de exibição (não-oficial), o Torneio Início, o Tricolor iniciou o Paulistana aplicando, de cara, três belas goleadas, no Mackenzie (5 a 1), no Juventus (7 a 1) e na USP (9 a 1). Na quarta rodada, contudo, a invencibilidade do São Paulo caiu frente a Lusa/Sant’Anna – que nos anos seguintes se mostraria a principal adversária das tricolores –, 3 a 4.
As são-paulinas reencontraram o caminho das vitórias superando os tradicionais arquirrivais do clube: Santos (3 x 0), Corinthians (2 x 1) e Palmeiras (com um grande 6 a 0).
No returno não houve grandes sustos. Na verdade, o futebol das meninas só evoluiu. 5 a 0 no Mackenzie, 6 a 0 no Juventus, 6 a 0 na USP e 9 a 0 na Lusa Sant’Anna – o castigo apropriado aos adversários pela derrota anterior.
No SanSão, nova vitória são-paulina: 4 a 1; e no Majestoso, um bonito 5 a 3 para as tricolores. Na última rodada da primeira fase, contra o Palmeiras, o São Paulo foi ao campo poupando jogadoras. Com a expulsão de Juliana Cabral, o Tricolor perdeu por 3 a 1.
O primeiro jogo da final, contra o alvinegro santista, uma leve surpresa: empate em 1 a 1. Apesar de possuir vantagem pela melhor campanha na primeira fase, as são-paulinas não queriam nada menos que a vitória contra o Santos na última partida, para coroar tão bela trajetória até ali. E, definindo o resultado ainda no primeiro tempo, não houve dificuldades para isso: a artilheira Kátia Cilene abriu o marcador logo aos 6 minutos, Karin ampliou aos 13 e Kátia Cilene balançou as redes mais duas vezes, aos 30 e 40 minutos, dando aspecto de goleada à final. Mônica, do Santos, ainda fez o chamado gol de honra, aos 27 minutos do segundo tempo.
Assim, as 22 atletas do elenco são-paulino festejaram, junto a torcida no Ibirapuera, a conquista do Campeonato Paulista de 1997!
Vinte anos
Em 1998, as goleadas implacáveis de Sissi e cia continuaram, mas o Tricolor encontrou um rival à altura: a Lusa Sant’Anna. Daquele ano até o fim desta fase do futebol feminino, no começo de 2000, as únicas duas derrotas do São Paulo em competições oficiais foram para essa adversária. E foram exatamente esses jogos perdidos que custaram os títulos do Paulista e Brasileiro de 1998. (Em 2000, o time foi eliminado no Brasileiro, mas dessa vez nos pênaltis).
No ano seguinte, 1999, o Tricolor voltou a ser campeão. Primeiramente da Copa Eduardo José Farah, realizada em Cubatão. Depois, venceu também o Paulistana, novamente com 100% de aproveitamento. Em verdade, o São Paulo terminou o ano de 1999 invicto em todas partidas oficiais.
Apesar do bom desempenho do time nessa época, em março de 2000 o time foi desconstituído devido alguns problemas estruturais do futebol feminino brasileiro. No ano seguinte, o São Paulo tentou recompor a equipe porem não obteve sucesso, ocorrendo a mesma coisa em 2005 e 2015, quando o Tricolor se sagrou vice-campeão estadual.
Em 2017, as são-paulinas voltaram ao campo, a princípio somente no sub-17, em uma parceria com o AD Círculo Olímpico: e foi um sucesso – as meninas conquistaram o campeonato estadual da categoria!
A decisão
29.06.1997 Campeonato Paulista – Final
São Paulo (SP), Ibirapuera
SÃO PAULO Futebol Clube 4 X 1 SANTOS Futebol Clube
Árbitro: Romildo Correia
SFC: Evanir (Rosa); Fanta, Cynthia, Solange e Claudinha; Mônica, Elaine, Flávia e Patricinha (Nana); Rita e Raquel. Técnico: Eduardo Jenner.
Gols: Mônica, 27/2